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O clube dos sobreviventes

É o título do último livro de contos de Tailor Diniz. Com três contos, como se resenhasse filmes em super 8 (lembram?), as coisas vão se passando sem a gente notar o tempo; as poucas personagens nos cativam, mesmo com suas idiossincrasias.

Foi "uma boa ideia" como costuma dizer uma personagem que dá título a um dos contos. Até o cachorro tem ares de gente, chamando-se Pessoa, fica na roda o tempo todo, come um bife a cavalo como os humanos.

Neste novo livro não temos o ar de policial de “Crime no Centro Histórico,” por exemplo, porque o momento é outro, abrindo agora uma porta para um “novo” igual, que não é mais igual. Agora, as personagens vivem e não se fazem perguntas e nem se importam com certas coisas passadas.

Seus personagens estão em busca do "velho" igual e encontram outro espaço, outras pessoas, e mesmo quando não, sendo amigos como em dois contos, a forma do encontro, o almoço de um frango assado de padaria, com polenta frita, é algo incrível e faz um novo real aparecer depois da clausura, em especial deles que são idosos, isto fica claro ao lembrar-se de outros parceiros que já se foram.

O primeiro texto começa como se fosse uma história de estrada (nos EUA diriam "road story"), mas acaba sendo encontro dos inusitados. Uma prostituta de beira de estrada conduz este encontro divertido, como é marcante a postura da dona do boteco/hotel. O simples, o banal, o “a la minuta” com dois ovos, o vinho de mesa, imagino um bordô, descendo uma jarra depois de outra, só pode o personagem acordar no dia seguinte às 10h da manhã, zonzo sem saber do que se passou à noite. E não se culpa, segue a vida. Afinal, como diz a divertida Amélia, não morreu ninguém de covid no Brasil no último mês, pois era esta a única coisa que ela buscava ao ver/assistir ao JN. E o deboche dela que daria por duas semanas de graça ao William Bonner. Ela clama pela Marlene/Marlenita para comemorar e por sua conta. Dança com ela. Convida o forasteiro Alfredo para jantar com ela, depois de ele ter gostado do pastel frito com café bem coado da Marlene. E tudo, como disse, com mais uma "jarrita" de vinho.

Os diferentes se encontram, sem preconceitos, afinal era o vírus que matava, que andou enclausurando as pessoas, e agora todos estamos em “O Clube dos Sobreviventes”. Assim também são a mulher e o homem, vulgo Melancia, que se encontram junto à porta fechada do Clube da Saudade.

Passam uma tarde juntos, ela e ele, impensável antes, pois não havia empatia entre eles, eram apenas conhecidos que não se cruzavam. Ouvem e curtem os bolachões tocados numa eletrola de malinha. Se de um lado a velha porta está fechada, outra se abre, a do apartamento da mulher, que nem em pesadelos teria passado isso por sua cabeça.

Estão os personagens em “O Clube dos Sobreviventes” construindo outras relações, pois somos levados a crer que o velho igual não mais existirá. Para o autor a passagem pela clausura fez as pessoas outras, tudo nos passa a ideia de que foi para melhor.

Tailor Diniz já usava como cenário a capital, o Estado, o localismo. Volta a trabalhar isso mais uma vez no livro que é uma edição da Class, de Porto Alegre, com capa do próprio autor e tudo a ver com a temática, com coordenação do Roberto Schmitt-Prym, revisão da Vera Ione Molina. Com criatividade e verossimilhança temos aí mais um livro de contos a ser lido.

 

ADELI SELL é professor e escritor.