A inveja é um sentimento humano que pode ter vários níveis e compreensões, podendo assumir intensidades psicopatológicas no viés psicanalítico. Não podemos imaginar um folhetim, um drama, sem que, via de regra, tenhamos uma vilania invejosa que deseja destruir seu objeto de ódio, supondo que este ocupa um lugar que lhe pertence.
Na perspectiva católica, é um dos sete pecados mortais que demanda superação através do desenvolvimento de um amor cristão e caridade ao próximo. Talvez, para fiéis atentos que desejam coerência com os princípios que adotam, a inveja possa ser uma forma de contenção que iniba atos de difamação e violências por parte dos invejosos.
É interessante notar que, na “Wikipédia”, a inveja é descrita como um sentimento de angústia. Isso faz eco com a questão do desejo na psicanálise lacaniana, cuja emergência está associada a ele. No entanto, o desejo, no viés analítico, é movido pelo que nos falta e não anda, obrigatoriamente, com a torcida para que o outro não possua algo. Tanto que falamos em “inveja branca”, que é assumida como o desejo pelas coisas boas da vida que são adquiridas por nossos semelhantes, sem que isso implique que eles percam o que adquiriram ou sejam atacados por isso.
A atuação destrutiva do invejoso está calcada numa incapacidade simbólica de narrar suas insatisfações e projeções, acreditando que os sucessos do outro são necessariamente algo que lhe foi roubado. Lacan ponderava que a inveja é imaginária, pois o invejoso supõe que o que o outro possui o torna completo. Ora, para os neuróticos, castrados, as faltas e perdas são justamente o que os tornam sujeitos desejantes.
Depois de idealizar a Feira Baile da Diversidade da Brigadeiro Sampaio, em parceria com a administração da prefeita Marivane Anhanha Rogério — evento que vem recebendo um público qualificado e cuja proposta tem sido valorizada por apoios como o FESTURIS e a Mythago Produções, que teve lugar de fala na maior parada do mundo, a de São Paulo —, passei a ser atacado, com etarismo e difamações. Veio, então, a convocação de lideranças de esquerda europeia para me colocarem na coordenação de uma carta ao Ministro da Reconstrução, Paulo Pimenta, em prol de ajuda suplementar à diversidade gaúcha, vitimizada pela tragédia político-ambiental.
Trabalhei com uma equipe voluntária durante cerca de 150 horas, realizando um documentário histórico da primeira edição da Feira Baile da Diversidade, na Praça Brigadeiro Sampaio, em 2023. Este vídeo foi barrado por inveja, com a alegação de falta de autorização de imagem, prejudicando o próprio movimento e os destaques dos artistas.
Como curador, realizei a exposição “DiversidARTE”, com uma obra inédita de Fernando Baril, 11 esculturas de artistas do IA da UFRGS, e os troféus Sylvinha Brasil, que ficaram expostos de 27 a 30 de agosto no Museu de História Júlio de Castilhos.
Tivemos um “grand finale” na parceria com a Parada de Luta LGBT+: entregamos os troféus Sylvinha Brasil junto com o apresentador Roberto Seintenfus, diante de mais de 100 mil pessoas na Redenção. Entre os agraciados, estavam Paulo Raymundo Gasparotto, Glória Crystal, Maria Odete Bento, entre outros.
A inveja pode nos causar grande sofrimento psíquico, principalmente quando oriunda de quem dedicamos muito afeto e valorização. No entanto, ela não é capaz de apagar com calúnias uma trajetória marcada por reconhecimento afetivo e profissional de uma rede de peso.
Recado: Um grande ganho para o invejoso seria se perguntar sobre seu sentimento, desde que não parta de uma estrutura psicótica, paranoica, dominada pela certeza. Vale também para os perversos, que narcisicamente não irão admitir sua inveja patológica, gozando com ela e com os prejuízos que causam a seus alvos.