Passado um ano da primeira morte por Covid-19 no Brasil, ultrapassamos as 355 mil perdas pela pandemia. É inegável que vivemos angustiados, amedrontados e até revoltados pelo negacionismo e falta de respeito daqueles que deveriam ter atitudes capazes de nos defender da alta circulação do vírus. Mas, infelizmente a incompreensão de que o vírus é muito mais que uma “gripezinha” e que apenas a vacinação imediata e ampliada colocará o Estado e país outra vez no eixo, parece ser algo fora do alcance daqueles que, supostamente, querem o bem dos brasileiros.
Enquanto “messias” batem cabeça, politizam a Covid e banalizam as mortes, vendo elas como meras estatísticas, milhares de pessoas perdem amigos e familiares. São seres humanos que pagam com a própria vida os deboches de um presidente que nega a necessidade de medidas sanitárias enérgicas, que insiste no tratamento precoce (já comprovado cientificamente que agrava casos) e que briga com governadores que discordam ou cobram dele determinadas posições.
Ao mesmo tempo em que “o joga para lá e para cá” de responsabilidades acontece, vazios se estabelecem em casas e corações. Não imagino o que se passa na cabeça de uma família que perdeu alguém neste período. Perder um pai que sempre foi referência, a mãe que sempre foi puro zelo, avós, irmãos. São perdas que nenhuma palavra explica. Imagino que o sentimento seja de mutilação.
Aprender a conviver com ausências é doloroso, afinal, somos acostumados a conquistar pessoas. Sabemos que um dia vamos perder alguém, mas jamais estaremos prontos para esse momento. Nossa vontade de seguir sempre ao lado daqueles que amamos transcende qualquer palavra, gesto, ação ou pensamento.
A dor é silenciosa. Mas mesmo assim, não podemos banalizar a falta de responsabilidade de quem poderia nos oferecer medidas de segurança e agir com sensatez. Se nos calarmos, estaremos mascarando a barbárie que ocorre em nosso Estado e país. Aos que perderam alguém neste tempo de pandemia, todo respeito e empatia. Espero que vivam o luto e em nome da perda, possam se reconstruir e transformar a dor em luta, jamais em esquecimento, pois o esquecimento é o maior inimigo da esperança de dias melhores.
Andréa Sommer
Jornalista, especialista em Gestão de Pessoas