Sou de uma geração que não apenas viu a redemocratização do Brasil, mas a viveu intensamente.
Em 1989 eu votei para presidente.
Para os nascidos nos anos 70, como eu, foi o primeiro voto, inclusive o mais sonhado.
Sempre me interessei por Política, “a arte de possível”.
Os grandes debates das eleições, a disputa para a Prefeitura de cidade de São Paulo, as eleições para Governador.
As eleições para Presidente, as primeiras depois de 25 anos.
Aliás para mim a ditadura militar só acabou mesmo no momento em que depositei meu voto na urna eleitoral, no dia 15 de novembro de 1989.
Até então o Brasil estava tutelado pelo representante do regime militar, José Sarney.
Pois bem, para os da minha época era sensacional ver discussões em alto nível, embora algumas vezes tão acaloradas que faziam com que esse nível fosse colocado em dúvida.
Tínhamos políticos geniais, vocacionados para exercer a arte do possível.
Repare o querido leitor que não me referi aos resultados apresentados pelos vitoriosos, mas sim ao alto nível das disputas.
Com o passar do tempo, e com o advento de uma nova geração tal cenário foi se modificando.
E vejo que a modernidade nas Comunicações contribuiu para tal mudança.
Uma mudança para pior.
A geração que veio após a minha foi perdendo o interesse pela arte do possível, e passou a viver com as possibilidades que a vida se lhe apresentava. Sem luta, sem nada. Apenas vivendo e deixando viver.
Não a culpo.
Tal geração apenas era convidada, a cada dois anos, a votar por uma pequena parte daqueles que deveriam representá-la.
Uma pequena parte, reitero, porque numa radicalização da democracia deveríamos eleger todos aqueles que tenham a possibilidade de modificar nosso destino, mas isso é tema para outro artigo.
Retomando meu pensamento, essa juventude não participou das lutas, ela conheceu um Brasil mais ou menos construído sobre os alicerces da Constituição Cidadã de 1988.
Repito, não a culpo.
Houve um processo de criminalização da Política que as alijou de todos os processos, mormente eleitorais.
Aos poucos a Política foi sendo escanteada.
Acabaram com os comícios, não há mais gente usando camiseta de candidato, nada.
Com isso não apenas o jovem, mas muitas pessoas tomaram nojo da Política.
Eu costumo me referir à essa geração como a “geração Tiririca, pior que está não fica”.
Mas fica sim, e como fica.
Mas o voto não apenas no palhaço, mas em outros, como por exemplo neste que está Presidente, se justificou.
Individualmente falando, muitos jovens tiveram suas consciências sequestradas pelo discurso da meritocracia, do individualismo e do hedonismo, um discurso que anda de mãos dadas com o neoliberalismo.
Foram bombardeados com comerciais de TV mostrando que a felicidade vem através do consumo , que a felicidade se baseia naquilo que você tem, não naquilo que você é, conseguido de maneira individual (vide individualismo), um discurso falso que empurrou grande parte da sociedade para o pensamento de que a solução para seus problemas não se dá mais pela política, mas sim quando se torna “patrão de si mesmo”.
O discurso do empreendedorismo.
Os jovens foram muito atingidos por esse discurso e, agora que tal ideário se mostra absolutamente fracassado, jaz desiludido com a Política.
O voto “contra o sistema”, o voto “contra tudo que está aí” nada mais é que um recado: “não queremos Política, nem políticos. Queremos soluções”.
Só que a solução para os problemas da sociedade se dá através da Política, e a Política deve ser feira por políticos.
Mas nessa dinâmica entra outro componente, a Política foi cooptada por uma miríade de aventureiros, oportunistas que, dizendo-se “não políticos”, “gestores” e “contra o sistema” sequestraram a Política real e na sequência, o emocional de muita gente.
Existem mais fatores que acredito são responsáveis pela desilusão, não apenas do jovem, mas de uma grande parcela da sociedade com a Política.
No próximo texto abordarei tais fatores, e tentarei apresentar sugestões para a mudança desse panorama.
Mas gostaria de encerrar antecipando uma sugestão.
No dia 15, vote em candidatos comprometidos com a população.
Não permita que a tentação da negação da política sequestre seu emocional.
Vote com o coração e com a razão.
Diógenes Júnior é escritor, técnico em Informática e acadêmico em História. Paulistano de nascimento, caiçara de coração e porto alegrense por opção, escreve para essa coluna semanalmente.