"E no escritório, na casa onde trabalho
e fico rico, ou penso que fico,
quanto mais eu multiplico
diminui o meu amor..."
Com o advento da pandemia, desde março estamos em nossas casas, reclusos à espera da cura, ou da vacina que nos proteja contra a doença.
No começo daquela que podemos dizer que é a maior crise sanitária de nossa História recente, creio que não apenas eu, mas todos nós contávamos dias e noites, certamente que guiados por nossos subconscientes, na esperança de que a pandemia em breve passaria.
Pois se passaram tempos e semanas e dias, e a pandemia ainda persiste.
Perdemos as contas de quantos dias estamos reclusos, exilados dentro de nossas casas, à espera de um milagre, da vacina que permita que possamos ter de volta nossas vidas.
Enquanto alguns clamavam, aliás ainda clamam em tom monocórdico pela "economia", irresponsavelmente atentando contra a vida, alimentando artificialmente um clima de normalidade, subestimando a letalidade do Coronavírus e forçando a volta do comércio, a saída das pessoas às ruas como se nada estivesse acontecendo, eu e muito provavelmente você que me lê seguimos balizados pelo bom senso, tendo como norte o fato irrefutável de que a vida importa mais que o lucro.
Aliás o que é o lucro, sem a vida?
Enquanto a grande maioria das pessoas passa por terríveis dificuldades, enfrentado o dilema, a decisão absurda entre duas escolhas possíveis, morrer de fome ou morrer contaminado pelo vírus, dentro de nossas casas seguimos, de certa maneira protegidos, trabalhando na medida do possível.
Não me sinto bem com isso.
Eu gostaria que todas as pessoas pudessem ter todas as condições para lutar por suas vidas.
Desde março foram tantos dias e noites de solidão, de expectativa e de temor que perdi as contas.
Acho que no centésimo dia deixei de contar os dias.
E lá se vão mais de duzentos dias, e a luta em defesa da vida, contra o tédio, contra o sedentarismo e contra a depressão, continua.
A boa notícia é que avançam as pesquisas que sinalizam a fabricação da vacina.
Ao que tudo indica sobreviveremos.
Ao que tudo indica, muito mais cedo do que tarde não precisaremos mais contar os dias, e os dias que contamos lá atrás farão parte de um passado que gostaríamos de esquecer.
Resta saber, conseguiremos?
Venceremos.
"No Corcovado, quem abre os braços sou eu
Copacabana, esta semana, o mar sou eu..."
Belchior
Diógenes Júnior é escritor, técnico em Informática e acadêmico em História. Paulistano de nascimento, caiçara de coração e porto alegrense por opção, escreve para essa coluna semanalmente.