ARTIGOS


A linha temporal da Covid-19 em Porto Alegre:

Aspectos históricos e reacionais dos Porto-alegrenses em tempos de pandemia e a percepção modificada da população mundial pós Corona vírus.

 

 

A disseminação da doença começou a tomar forma e ter seu epicentro na cidade Wuhan, na China entre novembro e dezembro de 2019. A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), foi popularmente chamada de novo Corona vírus, causador da doença Covid-19. Chegou ao Brasil no final de fevereiro de 2020, inicialmente não deixando a população porto-alegrense tão alarmada, fato totalmente diferente do que aconteceria depois de 11 de março, data que Porto Alegre teve seu primeiro caso positivo.

Em 16 de março, o prefeito Nelson Marchezan emitiu o primeiro Decreto de muitos outros que o sucederam para restringir cada vez mais o número de pessoas transitando pela cidade. Em 19 de março foi decretado estado de calamidade para o Estado do Rio Grande do Sul, a partir do Decreto de nº 55.128, pelo Governador Eduardo Leite, em decisão inédita na história do Estado.

Nesse ínterim, grande parte dos porto-alegrenses já estava começando a entender a gravidade da situação e, as reportagens da mídia televisiva, bem como de rádios e jornais passaram a dedicar seu espaço quase que exclusivamente a assuntos referentes a letalidade da Covid-19, a facilidade de transmissão, quais as comorbidades além da idade acima dos 60 anos que enquadram o indivíduo como sendo do grupo de risco e como se prevenir, aconselhando a todos que puderem, a ficarem em casa.

O sentimento de medo entre a população começa a ser instalado e consequentemente filas enormes em supermercados começavam a se formar, pois as pessoas resolveram estocar mantimentos em casa, sem ter a noção exata que o perigo maior naquele momento era principalmente a aglomeração de pessoas. Compras nas farmácias em grande quantidade de remédios começaram a serem realizadas para suprir uma possível e eventual necessidade e a busca desenfreada por três itens que são essenciais para a proteção de profissionais da área da saúde que fazem a linha de frente no combate à doença sumiram das prateleiras nesta exata ordem; o álcool em gel, máscaras de proteção e luvas médicas.

Em 01 de abril foi emitido novo Decreto de nº 55.154 pelo Governador Eduardo Leite, reiterando a declaração de estado de calamidade pública em todo o território do Estado do Rio Grande do Sul para fins de prevenção e de enfrentamento à epidemia causada pelo COVID-19 (novo Corona vírus), e dando outras providências sobre as restrições, ficando ainda mais rígidas para que a população permaneça em casa enquanto corria-se atrás da máquina para equipar os hospitais com o maior número de respiradores possíveis, liberar o maior número possível de leitos e aproveitar todos os espaços e equipamentos ociosos.

O principal problema que se quer enfrentar, é de que muitas pessoas adoeçam juntas e precisem de respiradores e cuidados intensivos, sobrecarregando o sistema de saúde e, consequentemente acontecesse o colapso como aconteceu na Itália e Espanha, chegando ao ponto de terem que escolher quem vai viver com o respirador e quem vai morrer sem ar. Soma-se a um segundo e consequente colapso no setor funerário, que atualmente acontece com força no Equador. Os funerais aqui no Brasil de falecidos com suspeita do Covid-19 deverão seguir rito específico de caixão fechado e sem velório, pois o risco de contaminação é alto, outro fator que mexe com os sentimentos dos familiares que não podem se despedir, mas que se sabe que há motivo da precaução.

O Brasil possui hoje cerca de 210 milhões de habitantes. Por seu tamanho, a preocupação com a disseminação só tende a aumentar. Países da Europa que estão servindo como referência comportamental do vírus possuem o tamanho muitas vezes menores que um estado do nosso país. Soma-se o fato de sermos subdesenvolvidos, com muita desigualdade social, subempregos com a consequente dificuldade de permanecermos em quarentena, além das dificuldades enfrentadas pelo governo para conseguir fazer chegar o subsídio (corona voucher) para a outra ponta, que é a de quem necessita e que está passando fome.

Outro desafio a ser enfrentado, é a de que não possuímos números reais de infectados pelo vírus, pois não temos o número de testes para a população e nem teremos, pois segundo o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a testagem de toda uma população como a do Brasil está fora da realidade. Muitas pessoas estão contaminadas pela Covid-19 e nem sabem que estão, pois são assintomáticas, mas ainda assim, podem passar para as outras pessoas, que por sua vez, podem ou não vir a desenvolver sintomas de toda a intensidade e até morrer, principalmente se fizerem parte do grupo de risco com comorbidades de doenças.

Por todos os motivos expostos, a única alternativa por agora é a do isolamento social para que a curva do número de infectados não atinja o pico, sendo assim achatada para que quem esteja doente, possa ter acesso aos cuidados intensivos e respiradores, o que não seria possível se todos ficassem com covid-19 ao mesmo tempo, para que fiquem em casa todas as pessoas que não trabalham em profissões essenciais e indispensáveis. Não se trata de egoísmo como algumas pessoas distorcidamente entendem por estarmos confortavelmente em casa enquanto os demais estão “ralando” e se colocando em risco. Nós devemos ficar em casa justamente como um ato de solidariedade para quem não pode optar por estar em casa e assim, garantir o atendimento médico para aquela pessoa.

Sabe-se o quanto o isolamento será prejudicial já a curto prazo, quem dirá a longo prazo para o setor econômico-financeiro do país, mas primeiro deve-se prezar sempre a vida das pessoas. Os decretos municipais e estaduais foram acertados por se pautarem nas evidências científicas para que não tomem nenhuma decisão precipitada com a vida da população e assim se espera que continuem flexibilizando ou não de acordo com as evidências e números, não pelo motivo da pressão externa que sabemos que enfrentam.

Quando tudo isso terminar e voltarmos a nossa rotina, não seremos mais os mesmos. Pensaremos diferente e agiremos diferente em nossas vidas. Daremos muito mais valor as pessoas. Finalmente, estamos reconhecendo o Sistema Único de Saúde – SUS, como um sistema que não só é importante, como fundamental de termos para a administração de uma saúde pública, ampla e gratuita a ser ofertada para toda a população e que, por causa dele, do isolamento social e de políticas públicas emergenciais, venceremos o vírus com o menor número possível de baixas.

Estamos presenciando uma nova percepção de que todos estamos interligados. O Planeta Terra é um só e, que tudo que fazemos afeta de alguma forma os outros. A nossa passagem nesse Mundo é compartilhada com todos os demais seres. Estamos vivendo a história de uma Terceira Guerra Mundial, na qual não precisou ser disparada uma única arma e, que fez com que toda a humanidade se unisse com um único inimigo em comum: o Corona vírus.

 

 

Tania Rosenblum é Bacharela em Direito pelo Centro Universitário FADERGS.

E-mail: taniarosenblum@gmail.com