“A pior cegueira é mental, que faz com que não reconheçamos o que temos pela frente”. (
Não é fortuita a citação de Saramago, já que os autores tentam estudar e entender a mente dos nossos eleitores, buscando verificar, de maneira séria, a opinião pública brasileira. É essencial para um momento em que se grita tanto, e se houve tão pouco.
Jairo Nicolau, no Prefácio, nos diz que as eleições de 2018 foram a disputa mais surpreendente da história das eleições do Brasil.
Neste livro se trabalha por que razões foram estas eleições “disruptivas”, utilizando-se de uma análise de antropologia digital, do estudo da oposição entre “lulismo” e “partido da Lava Jato”, a estrutura tradicional contra a inovação na campanha; papel das Fake News, bem como o lugar da “facada” no candidato e os possíveis “Se...”
Os dois grandes polos em disputas não se formaram no pleito de 2018 o PSDB evaporou-se. E o PT, no fogo cruzado, acabou não conseguindo eleger seu candidato, mesmo sendo o “representante do lulismo”.
Foi o certame dos indignados e do candidato fora do sistema, com um enxoval politicamente incoerente de falas e atitudes por parte do eleito.
Lava Jato, whatsapp, candidato que vende uma imagem de anti- sistema, fora dos padrões tradicionais da nossa política, são os ingredientes fundamentais desta campanha.
Na página 31 lemos: “as mudanças tecnológicas e uma plataforma de comunicação não são detalhes, mas a parte central da dinâmica alucinante dessa campanha presidencial. ”.
Por ela e com elas explorou-se o medo e a revolta reinante.
Foi uma eleição contra os políticos; em especial contra o PT.
A insegurança pública, a corrupção e o establishment foram o saco de “pancada”.
Lula, em 2002, havia sido eleito com profundo desejo de mudança. Com Lula foi um sentimento de esperança; agora, era um sentimento de raiva.
Os autores enfatizam que a eleição foi polarizada pelo lulismo, de um lado, e a Lava Jato, de outra parte.
Bolsonaro imprimiu um discurso que refletia a expectativa e o desejo do povo.
As pessoas votaram no “novo pelo novo”, naquele que nunca foi do executivo, que não estava na Lava Jato e calou fundo seu discurso de anomia no eleitorado evangélico.
Os polos em disputa pelo 1º e 2º lugar era também um confronto de dois rejeitados, criando polos, sem espaço para uma terceira forca.
Foi a eleição da era dos Smartphones, sendo o quadro do Globo (“O Brasil que queremos") todo feito por pessoas do povo por smartphones.
Houve robôs, mas os autores focam o processo vitorioso num grande engajamento voluntário do eleitorado.
Dizem:
“A exitosa campanha de Bolsonaro parece ter sido produto de uma gestão eficiente, mesmo que acidental, do uso das mídias sociais.”
O sucesso se dera por que as postagens tinham uma aderência ao sentimento de medo e revolta do povo.
Outro ponto que ajudou Bolsonaro a vencer foi a “autenticidade”.
Os autores não são conclusivos sobre o peso das Fake News no resultado final. Pedem, inclusive, cuidado na correlação direta entre as Fake News e o resultado eleitoral.
Analisam de forma clara e precisa a relação entre Trump e Bolsonaro.
Para um e para outro, o eleitor de lá como o daqui tinha a mesma posição: “ele é diferente de tudo que está aí”.
Os indignados tinham e tiveram tudo o que queriam: Trump lá e Bolsonaro aqui.
Em eleição “Se...” é apenas um exercício de reflexão.
O livro de Mauricio Moura e Juliano Corbellini é uma leitura obrigatória para entender as eleições de 2018 e o que está se sucedendo no Brasil nos dias atuais.
Adeli Sell é escritor e vereador