ARTIGOS


PORTO ALEGRE: Por que os inundados não votaram no PT?

Adeli Sell

 

         A sensação dos moradores/eleitores que sofreram inundações em Porto Alegre (estou me baseando em pesquisas) foi aquele da "ausência" da esquerda nas regiões. Para estes foi a direita que realizou resgates, fornecendo marmitas, ranchos.

         Sabemos, por denúncias que houve manipulação na entrega de donativos por parte do governo local e vereadores da sua base; porém, nada disto rendeu qualquer processo.

         Vários setores da esquerda fizeram muitas ações de ajuda, seja via cozinhas comunitárias - muitas vezes longe dos territórios inundados, é verdade – com arrecadação de donativos também.

         Mas, no geral, não foi “visto” por estas populações. A esquerda não esteve ausente, por certo. Eu não estive ausente.  Agi e ajudei de mil e uma formas. Por estas observações tivemos, mais uma vez, um problema de comunicação. Enquanto eles, largavam “fake news” mostrando o tênis branco de nossa candidata, como se tivesse ausente e não se “sujado nas águas turvas”, nós não tivemos capacidade de nos comunicar e isto que Lula instalou um Ministério Especial de Reconstrução.

         O que apareceu ao inundado foi a acusação da omissão do governo federal, alardeado pelo governo local e estadual, através da falsificação de dados, e pela mídia, dando volume. As pessoas em geral, pelas pesquisas a que tive acesso, não viram algo de concreto feito por nós, quando precisavam de ajuda direta para fugir das águas e voltar, o seu “amargo regresso”. Tivemos uma postura ética de não expor, não fotografar, não alardear LIVEs de doações.

         Nestes episódios não contou o fato real, mas a versão.

         Após o infortúnio, a direita em rede, candidatos/as a vereador/a, com empresários, apareciam alardeando “ajudas”, enquanto os 5.100,00 do governo federal (tão essencial) não teve a clara digital do governo do PT. Ficou a marca das igrejas, CTGs pela limpeza dos imóveis, arrecadação de materiais de construção etc.

         Eu, entre outros, tinha presença anterior aos eventos e durante os mesmos, mas como não fiz alardes, minha votação foi pífia, pois não houve reconhecimento. Ou melhor, o eleitor “não me viu” ou “não me viu” como viu os outros.

         O que ficou foi a sensação da ausência do PT e a nossa como vereador.

         Isto puxa um debate sobre que relação o povo esperava do parlamentar. E dos governos. Que relação nós estamos tendo hoje com os segmentos sociais? No meu caso, por ser o vereador de toda a cidade, pode ter sido sentido como uma ausência nestes locais, mesmo presente nelas, como nunca deixei de estar e atender pessoas em outros espaços.

         Faço este registro com o intuito da abertura de debates sobre nossos métodos de ação, nossa relação com as comunidades, com o uso da comunicação.

         Outro caso: ficou a ideia da compra assistida de casas como algo do "futuro". Uma ajuda sem precedentes do governo Lula. Mesmo que vá receber sua casa do governo federal, ele tem na cabeça uma “expectativa”. Não a casa real em que vai morar por ter perdido a sua.

         O fornecimento de alimentos pela Conab não foi vista nem entendida como sendo do governo Lula.

         Ademais, prefeito, vereadores e mídia batiam na tecla de "ausência" do governo Lula. E a mídia alardeava a mentira.

         Há fatos reais que não podem ser omitidos, no caso do Pronampe, tão essencial aos pequenos e médios a burocracia governamental e em especial do Banco do Brasil e secundariamente da Caixa devem ter tirado muitos votos do PT.

         Logo, o PT "esteve ausente”, elemento alardeado por “fake news” da extrema direita. E por nossa precária comunicação.

         Os bilhões de Lula eram algo dos anúncios. De mídia.  Não palpável mesmo com os 5.100 reais da reconstrução.

         Os cadastros entregues - com atraso - foram usados eleitoralmente para chamar as pessoas, ter um papo com os Cargos de Confiança, que mentiam, omitiam e faziam proselitismo.

         Enquanto isso o prefeito ia ao encontro das pessoas enfrentando vaias, dizendo que ele estava ali para ajudar e resolver.

         Ganhou este modo de agir e comunicar. Ganhou o “chapéu” de palha do prefeito fanfarrão.

         Perdemos nós, perdeu o PT.

         Perdeu a cidade com a minha e outras ausência.

         Que tudo isso sirva de lições.

 

ADELI SELL é professor, escritor, bacharel em Direito e vereador até 31.12.24.