Selvino Heck*
Vai mudar alguma coisa com uma mulher negra candidata, Kamala Harris, futura presidente dos EUA, com grandes possibilidades de vitória? Provavelmente, não. Mas é, ou pode ser, quem sabe, um sinal dos tempos.
Está cada vez mais difícil entender e explicar o mundo e a conjuntura atual, mesmo para quem, como eu, acompanha (quase) tudo, e faz análises de conjuntura há muito tempo. Que dirá uma pessoa comum do povo, que vê a Globo ´en passant´, ou ouve rádio, ou, e principalmente, fica presa ao WhatsApp e às redes digitais!
Somos bombardeados sobre os acontecimentos da Venezuela o tempo todo, com notícias, informações e análises as mais variadas, muitas contraditórias, mesmo no campo democrático-popular e de esquerda.
E as guerras? Cada dia que passa, a possibilidade de uma terceira guerra mundial, que, tudo indica, poderá ser nuclear, parece se aproximar, sem nenhum sinal de que a paz e o fim das guerras no Oriente Médio e na Europa-Ásia estejam sendo construídas ou, pelo menos, se aproximando.
E a crise climática? Há as tempestades e suas consequências no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, mais a seca terrível na Amazônia e no Pantanal. E agora os incêndios criminosos em São Paulo, possivelmente orquestrados. Mais a fumaça da Amazônia ameaçando chegar no Sul, com graves danos à saúde!
A violência diária está absurda, e em crescimento, especialmente contra mulheres, crianças, jovens negros, indígenas. O Rio de Janeiro vive cercado de milícias, especialmente os morros e as favelas, onde mora o povo pobre, mortes e assassinatos a torto e a direito.
Neste contexto, está por acontecer a mais que importante eleição americana para presidente, com uma candidata mulher e negra!!!
Onde vamos parar? Onde o Brasil e o mundo vão parar? Como entender, e explicar, tudo que está acontecendo? Como ter uma visão imparcial? Como acreditar no que as-os candidatas-os dos EUA dizem e propõem? Até agora, nenhuma palavra da candidata a favor da paz, nenhum gesto concreto para diminuir o sofrimento no mundo.
A frase de Obama, - ´sim, ela pode!´-, por outro lado, é simbólica. Sim, Kamala Harris pode vir a apoiar a democracia no mundo. Sim, ela pode fazer com que os EUA deixem de ser o xerife o mundo e parem de apoiar golpes de Estado, como fizeram nos anos 1960 no Brasil e outros países da América Latina, resultando na ditadura militar brasileira de mais de 20 anos. E, em 2015/2016, os EUA não impediram o impeachment da primeira presidente mulher no Brasil, Dilma Rousseff, apoiando mais uma vez um golpe, em meio ao ultraneoliberalismo e neofascismo reinantes, comandados pelo bolsonarismo. Sim, Kamala Harris pode vir a apoiar um Estado palestino, principal decisão para acabar a guerra no Oriente Médio, e garantir a paz. Sim, ela pode ter outra visão sobre as mudanças climáticas. Sim, ela pode!
Vai acontecer? Muito provavelmente, e muito infelizmente, o mais provável é que nada vai mudar, nada vai ser diferente do que sempre foi.
Mas com uma mulher presidenta dos EUA, negra, quem sabe! Um sonho? Vamos rezar e torcer, torcer e rezar que sim, que tudo será melhor e diferente, pela primeira vez na história.
Sim, em 2024, ELAS PODEM! Como Maria do Rosário e Tamyres, duas mulheres de luta, candidatas em Porto Alegre, podem, e vão fazer acontecer: ressuscitar o Orçamento Participativo, anunciar a solidariedade, renascer a esperança em tempos tri difíceis. O povo consciente e organizado, e em especial as mulheres, são força e fé no futuro!
*Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)
