ARTIGOS


É PRECISO ESTAR ATENTO E FORTE

Selvino Heck*         

 

               “Atenção, ao dobrar uma esquina./ Uma alegria, atenção, menina./ Você tem, quantos anos você tem?/ Atenção, precisa ter olhos firmes pra este sol./ Para esta escuridão./ Atenção, tudo é perigoso./ Tudo é divino, maravilhoso/ Atenção para o refrão, uau!”

                A canção, ´Divino, Maravilhoso`, composta por Caetano e Gil no emblemático ano de 1968, e cantada com garra e coragem por Gal Costa num Festival em 13 de novembro de 1968, continua mais que atual.

                É preciso lembrar alguns acontecimentos, entre outros muitos, de 1968: o assassinato de Martin Luther King; o Maio francês, com enormes manifestações estudantis; a passeata dos 100 mil, no Brasil; e, em meio à ditadura em seus tempos mais violentos, a edição do AI-5, Ato Institucional nª 5, para reprimir a luta popular por democracia, especialmente das juventudes.

                O refrão de ´Divino, Maravilhoso´, na genialidade de Caetano e Gil e na voz de Gal, diz tudo, em 1968, e ainda hoje, 2024: “É PRECISO ESTAR ATENTO E FORTE./ NÃO TEMOS TEMPO DE TEMER A MORTE”.

                10 de agosto de 1974. Há exatos 50 anos o dominicano Frei Tito de Alencar Lima resolveu partir. Frei Betto, também dominicano e que esteve na mesma cela de Frei Tito, ambos presos políticos nos anos 1970, diz que “na vida das pessoas, religião e política estão entremeadas. Frei Tito acabou sacrificando a própria vida para não delatar outras pessoas. Então, portanto, foi alguém que deu a sua vida para que outros tenham a via como ensina Jesus no Evangelho” (Brasil de Fato, 10.0824).

                O dominicano Frei Xavier, último a ver Frei Tito vivo na França, onde estava exilado, disse, na celebração dos 50 anos da partida de Frei Tito, em São Bernardo do Campo. em 10 de agosto de 2024: “Ele representava a aliança entre a fé e a revolução. Guardamos dele a imagem de quem não se dobrou aos algozes”.

                Não estamos em 1968, em tempos de ditadura militar e de AI-5. Não estamos em 1974, quando havia muitos presos políticos e houve o sacrifício de Frei Tito. Estamos, porém e contudo, num ano, 2024, em tempos muito, muito difíceis e contraditórios. As guerras só crescem no mundo, ameaçando estar mais próxima, a cada dia, uma guerra nuclear, a paz absolutamente distante. A violência no Brasil está por todos os lados, com mortes absurdas de crianças, assassinatos de mulheres, jovens, indígenas, quilombolas e população LGBTQIA+. A democracia está ameaçada. As mudanças climáticas estrangulam o mundo, não só o Rio Grande do Sul, também a Amazônia e o Pantanal. Há uma crise civilizatória.

                Onde vamos parar? Onde o mundo vai parar?

                Mais que nunca, é preciso unidade: por paz, por democracia, por vida, por futuro, por esperança. Mais que nunca, NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM. Mais que nunca, a luta popular, com trabalho de base, com Formação na Ação, com ampla mobilização social, é fundamental, na construção de valores democráticos, de consciência política, inclusive nas eleições municipais de outubro, um momento especial de diálogo, de formulação de propostas, de conversa com o povo, de ser de novo também movimento e não apenas instituição É hora de um grande Mutirão pela Democracia, unindo mulheres e homens de boa vontade, crentes e não crentes,  todas as etnias, todos os saberes, para que um outro mundo torne-se possível, além de ser mais que urgente e necessário.

                1968 não é ontem. 1974 não é ontem. É também hoje, em 2024.

                Não há tempo a perder. “É preciso estar atento e forte./ Não temos tempo de temer a morte.”

                 Frei Tito vive em nossa luta e em nossos corações.

 

 

*Selvino Heck

Deputado estadual constituinte do Rio Grande (1987-1990)