Adeli Sell
Arroz misturado com ovo salvou-me algumas vezes de ir para a aula noturna com fome. Noutras vezes, com mais tempo, caprichava numa galinhada com arroz orgânico num final de semana. Aprecio também um risoto sofisticado com peras e especiarias quando a grana me permite um bom restaurante.
Arroz e feijão, só arroz com feijão, foi a expressão que mais ouvi na catástrofe de maio no Rio Grande do Sul. Gente que perdeu tudo: casa, roupas, memórias e até parentes se satisfaziam apenas com arroz com feijão, sem mistura.
O Rio Grande do Sul é disparado o maior produtor brasileiro de arroz. Quando desta enchente, 83% da safra já havia ocorrido. Tivemos perdas, mas sem colocar em risco o abastecimento.
Houve manifestações mentirosas de arrozeiros, da Farsul, de deputados estaduais e federais, falando dos "problemas do arroz", caluniando Lula e nos xingando.
Mas foi o governo anunciar a importação para não haver especulação dos preços, que as trombetas soaram.
Deputados foram às portas dos Tribunais para pegar um plantão.
Com sentença ou sem, com alardes que não param, com mentiras de sempre, Lula garante arroz a 4 reais.
Mas foi o capitão deles que em seu governo importou 400 mil sacas.
Nada disseram-se. Calaram-se.
É uma hipocrisia tamanha que só resta manter a importação e colocar no seu devido lugar esta escumalha.
Que os direitistas, sujos e malvados, fardados da Banalidade do Mal, vão plantar batatas.
Afinal, a chuva parou.
Adeli Sell é professor, escritor, bacharel em Direito e vereador do PT em Porto Alegre.