Adeli Sell*
Nos tempos atuais muito tem se discutido sobre comunicação e as formas como os espectros políticos da Esquerda e da Direita se comunicam, sobretudo nas redes sociais, que são os grandes centros de debate. Tenho me dedicado a ler sobre o assunto e a ouvir tanto especialistas quanto usuários das redes. Existem críticas de todos os lados.
Eu, particularmente, não acho que a comunicação do governo Lula seja ruim, como ouço alguns companheiros falando. Sim, a extrema Direita tem mais engajamento nas redes, mas não que esse engajamento necessariamente se traduza em votos, visto que mesmo toda a indústria de fake news deles e toda a máquina que o governo Bolsonaro tinha em 2022 não foram suficientes para derrotar o Lula.
Acredito que, entre nós da Esquerda, repetir constantemente que a nossa comunicação é péssima e que a da Direita é excelente não ajuda. Isso cria um clima de derrota interna, dando a impressão de que “faça-se o que fizer, o jogo nas redes já está perdido”. E não é assim. Temos vários expoentes da Esquerda que se destacam nas redes, como Leonel Rade (deputado estadual do PT no Rio Grande do Sul), João Campos (prefeito de Recife pelo PSB), Fernanda Melchiona (deputada federal do PSOL) e Manuela D’Ávila (PCdoB). O que eles têm em comum? Uma postura combativa, sem medo de se contrapor à Direita e desmentir suas fake news.
É importante lembrar que redes sociais, devido aos algoritmos e à natureza egoísta e individualista do ser humano, são ambientes propícios ao ódio. Confrontos, brigas e críticas geram mais engajamento. Talvez seja neste ponto que a comunicação do governo Lula peque, porque o atual presidente é um estadista, um conciliador, que busca promover a união, incentivar o trabalho e apresentar ações para o Brasil. E não é isso que engaja nas redes. Primeiro porque não é o que o algoritmo mais entrega. Segundo porque grande parte do público que utiliza a rede social, seja por falta de informação ou por má índole, embarca na narrativa dos problemas inventados pela extrema Direita sobre ideologia de gênero e implementação do comunismo no Brasil, e deixam de lado informações sobre as políticas concretas que vão solucionar problemas do cotidiano.
A eleição municipal de 2020 em Porto Alegre é um claro exemplo disto. No segundo turno, de um lado tínhamos Manuela D’Ávila, que em um dos seus primeiros programas de TV falou sobre a necessidade de se retomar o projeto da Casa de Bombas número 10, no Sarandi, e estabelecer planos de ações com o governo estadual e a Metroplan para resolver questões do Arroio Feijó. Do outro lado tínhamos Sebastião Melo, apoiado pelo Bolsonaro e pela extrema Direita, que espalhavam mentiras dizendo que que se Manuela vencesse, Porto Alegre se transformaria numa Venezuela, as pessoas iriam comer carne de cachorro e as crianças não teriam futuro. Ironicamente, e para tristeza de todos nós, 4 anos depois, veja o que aconteceu: Porto Alegre alagou devido à falta da manutenção das casas de bombas por parte do prefeito Melo, que venceu Manuela em 2020, milhares de crianças estão sem casas e sem escola, e milhares de cachorros e outros animais também estão desabrigados.
Talvez um dos grandes méritos da comunicação da extrema Direita seja a importância que eles dão ao processo de se comunicar. Há planejamento, ensaio, discussão de estratégias, tudo isso com o objetivo de gerar um conteúdo simples, direto e que pareça natural aos olhos do público. Um conteúdo apelativo que dialogue com a natureza egoísta e individualista do ser humano, mesmo que o conteúdo seja falso ou criminoso. Um conteúdo que encubra os verdadeiros problemas da cidade, do estado e do Brasil e desvie o foco para uma crítica à Esquerda. Isso fica muito evidente na Câmara Municipal de Porto Alegre. Vereadores do Novo e do PL, por exemplo, não conseguem subir um dia à Tribuna sem citar o PT. Mesmo nas raras ocasiões em que debatem um problema de Porto Alegre, que não é governada pelo PT desde 2003, eles conseguem trazer o nome do nosso Partido à tona, com uma crítica, uma mentira, uma cortina de fumaça para ocultar os reais problemas dos governos Marchezan e Melo que administram a cidade há 8 anos com o apoio deles.
Nós, da esquerda, por outro lado, temos toda uma preocupação com a verdade, e só isso já mostra que mesmo que estejamos perdendo a narrativa nas redes em alguns casos, mantemos a integridade e a busca por discutir problemas reais e não imaginários. Como contribuição, buscando melhorar a comunicação do nosso campo político, quero deixar duas sugestões: acredito que tenhamos que exercitar, diariamente, a simplificação da linguagem que usamos para nos comunicar; e mostrar como a ação das políticas públicas que defendemos impactam na vida das pessoas. Comunicação, nas redes ou em qualquer plataforma, é um processo diário e contínuo e sempre há tempo de aprender e de mudar.
*Adeli Sell é professor, escritor, bacharel em Direito e vereador do PT em Porto Alegre.