Naia Oliveira*
O grande desafio deste século é reverter os efeitos nocivos do conflito entre sociedade e meio ambiente. A sobrevivência da espécie humana depende que a natureza não seja mais considerada como doadora de recursos a serem explorados como meros instrumentos geradores de riqueza. Ao mesmo tempo, não se pode deixar de contemplar o atendimento às necessidades dos seres humanos, na perspectiva de bem-estar.
É necessário a mudança de visão de mundo, com a aplicação de novos paradigmas que venham complementar a abordagem científica – tecnológica convencional. Sabe-se que, apesar de a Terra ser um organismo vivo, inteligente e autorregulado, ela tem seus limites, já que seus recursos naturais são finitos. A natureza age através de fluxos circulares; entretanto, na produção capitalista, os fluxos são utilizados unidirecionalmente, retirando de circulação esses recursos e devolvendo poluição. Entende-se que, dessa forma, muito em breve enfrentaremos o esgotamento dos ecossistemas.
Já, em 1987, foi estabelecida uma definição para desenvolvimento sustentável pelo Relatório Brundtland: “é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades”. Esse relatório é fruto de um trabalho da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983 por deliberação da 38ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Desde esse período, temos diversas atividades em defesa do ambiente terrestre e marinho, coordenadas pela ONU, como a COP28 que aconteceu recentemente em Dubai e tem deixado frustrados os ambientalistas.
Viabilizar prática e verdadeiramente a noção de sustentabilidade implica, também, na mudança de comportamento individual, social e, fundamentalmente, nas transformações dos processos de produção, consumo e distribuição capitalistas. Para tanto, se faz necessário o desencadeamento de uma ampla discussão, o comprometimento de toda a sociedade e a incorporação dessas questões pela arena política.
No contexto da globalização econômica mundial em curso, observa-se a tendência forte e dominante de desregulamentação; entretanto a crise ambiental aponta para uma necessidade incondicional de regulamentar a relação sociedade e meio ambiente.
As reformas neoliberais e os processos de mundialização econômica, não mais centrados na produção, mas no setor financeiro, desmantelaram, em parte, as capacidades reguladoras públicas para controlar a degradação ambiental, bem como para lidar com problemas sociais como o desemprego, a pobreza, as consequências da urbanização desenfreada e outros. Contraditoriamente, surge, em muitos países, a tomada de consciência para impulsionar um desenvolvimento socioeconômico através da incorporação dos recursos naturais como patrimônio.
A expressão “desenvolvimento sustentável” apresenta legitimidade nos discursos dos diversos segmentos da sociedade mundial, bem como interpretações diversas que vão desde a tentativa de camuflar uma acumulação de riqueza desenfreada, até o uso de mecanismos de desenvolvimento limpo, de experiências mais amplas como as ecovilas, que são assentamentos humanos orientados pelas dimensões de sustentabilidade, incluindo, entre outras questões, as da economia solidária que busca incrementar um sistema produtivo e um consumo mais equilibrado também ambientalmente.
É importante guardar uma postura crítica com relação às dinâmicas socioeconômicas concretas para implementação das transformações necessárias, já que estão em jogo grandes interesses internacionais. Porém, frente à crise ecológica, as políticas ambientais que dão respostas aos problemas pontuais, como poluição industrial, contaminação do ar, solo e das águas, buraco de ozônio, chuvas ácidas, aquecimento global etc., também são necessárias.
Não podemos esquecer, no entanto, de que o ponto-chave reside na criação e legitimidade de novos paradigmas científico-tecnológicos e de novas realidades materiais, somente obtidas através da ampliação dos espaços de cidadania, com a implementação de regimes políticos democráticos e o decorrente aperfeiçoamento de suas instituições, tendo a manutenção da vida como centro.
*Socióloga, ecofeminista.