ARTIGOS


Liberdade x intolerância: a maior “Guerra” de todos os tempos

Adeli Sell

 

Nunca exagero em titulações, nem em minhas falas e escritos. Nem achei exagerada a manchete do Jornal Brasil de Fato quando diz:

‘Se não reagirmos, em 15 anos não haverá mais democracia no mundo’, diz historiador. Trata-se de João Cezar de Castro Rocha, e diz mais: “é imperioso enfrentar Elon Musk e o avanço da extrema direita nas redes sociais”.

No Carnaval em Salvador, Baby Consuelo disse para Ivete Sangalo: “O arrebatamento está chegando, será em cinco anos”. Seria a segunda vinda de Jesus. Caricato! Sim, mas aterrador. É crença: convicção de muitos!

Ela e os novos pentecostais aderem ao Exército de Davi. Por isso, eles vêm com a bandeira de Israel com seus dois triângulos sobrepostos, com uma ponta aos céus e outro para a terra. Querem ser os donos do mundo. Sem esquecer que o exército de Davi não tinha nenhuma misericórdia. Passava na espada os adversários. O Davi que interessa à Teologia do Domínio é o Davi, senhor das armas. É o Davi do Império. E assim eles vão tratando a tudo e a todos, pois eles se acham ungidos a tal.

Junto com eles estão os magnatas como Elon Musk. A Justiça brasileira precisa processar Elon Musk. Um jovem americano já o fez, Bem Brody. O que estamos esperando? Nosso governo deveria ter agido mais fortemente a ele. A reação do Ministro Alexandre de Moraes foi correta.

E sigamos o que nos dizia Carlos Mariguella: “não temos tempo para ter medo”.

Escrevo aqui porque não tive medo da ditadura, fui preso e processado e sobrevivi aos mais de 20 anos de terror, e não quero viver nada disto mais uma vez. Nem quero que meus semelhantes sofram com ditaduras e ditadores, sejam de que colorações forem.

O que acontece todos os dias nos mostra que o 8 de janeiro foi a junção da Banalidade do Mal em Brasília. Foi o “Exército de Davi” em ação.

A cada dia temos exemplos e exemplos que corroboram a tese do professor João Cezar de Castro Rocha acima.

 “Professora é ameaçada após corrigir desinformação de aluna sobre Alexandre de Moraes”. A mãe vai à escola “peitar” a professora.

Também destaco a censura ao projeto Mundoteca, em Canoinhas (SC), depois de um vídeo gravado pela prefeita da cidade - baseado em fake news - no qual ela joga livros em uma lata de lixo.

Enquanto ela joga livros no lixo, eu recolho livros o ano todo e os levo às periferias para que o povo leia e pense.

Mas há luzes nesta escuridão. Um colégio de Pinhais (PR) afastou um professor da rede pública suspeito de apologia ao nazismo, racismo e xenofobia. Segundo a Polícia Civil, informada pela Abin, o professor investigado compartilhava conteúdo disseminando conteúdo de ódio em suas redes sociais e foi alvo de mandado de busca e apreensão nesta semana.

Ah, uma vasculhada nas redes, nas “deep web”, outros tantos monstros iriam aparecer.

Mas cuidado, muito cuidado, de não acusar inocentes por alguma frase tirada de contexto. Sim, isto também pode acontecer, até porque já aconteceu.

Em Porto Alegre, o Ministério Público abriu ação contra uma vereadora por ataque a quatro pessoas em serviço na casa legislativa, incluindo injúria racial e preconceitos a PCDs. Ainda está sob investigação.

Em Porto Alegre, há outros casos bem graves. Como na Igreja São Jorge, onde houve ameaças após ter divulgado ato inter-religioso que unia a religião católica com religiões de matriz africana. O ato ecumênico foi realizado em devoção a São Jorge e Ogum. 

Ás vezes, como mostrado acima, o Poder Público faz sua parte, como no caso da prefeitura de Salvador (BA) que vai desapropriar uma construção irregular que ameaçava a integridade do Terreiro da Casa Branca, considerado o mais antigo do Brasil e tombado como patrimônio cultural pelo Iphan.

Voltando a Porto Alegre, um monumento a Ogum na Praia de Ipanema, tombado como patrimônio histórico-cultural da cidade em 2023, foi pichado com as palavras “pagão” e “Cristo vive” na semana do Dia Nacional do Combate à Intolerância Religiosa.

A intolerância é vista em cada esquina da cidade.

Diante disso, protocolizarei, em breve, dois projetos de tombamentos de duas instituições religiosas da matriz africana como patrimônio imaterial da cidade, como foi feito com o Bará do Mercado em passado recente.

Na luta contra a intolerância, contra a intolerância religiosa, não vamos compactuas com “religiões” que querem se adonar do pensamento religioso e impor sua vontade em clara contradição com a tolerância e a liberdade de credo.

Propugno a paz, a civilidade, a tolerância. A convivência entre judeus e palestinos. Um estado para israelenses, Israel, e outro livre para os palestinos, a Palestina.

 

Adeli Sell é professor, escritor, bacharel em Direito e vereador do PT em Porto Alegre.