Adeli Sell
Uma morte em um hospital é uma vida que vai. Este ato está dentro do mundo real, pensável, compreensível. Porém, a morte de um Hospital, com certeza, são vidas que vão junto, sem chances de um suspiro.
Alguém se lembra do Hospital Maia Filho no Bairro Floresta? Poucos. Somente resgates de Memória, para "cutucar a onça com vara curta" é que nos auxiliam a pensar, refletir e tomar atitudes.
Quem ouviu falar do Hospital Lazzarotto? Pois conto. O Hospital Lazzarotto era privado. Ficava na Avenida Assis Brasil, n° 1616, no bairro Passo da Areia. Chegou a ter 240 leitos e mais de 500 funcionários, sendo referência em Cardiologia nos anos 80.
Um caso escandaloso foi o fechamento do Hospital da Criança Santo Antônio, reportado no Correio do Povo, dizendo:
"O cercamento colorido no quarteirão de mais de 7 mil m das avenidas Ceará e Maranhão e as ruas Ernesto da Fontoura e Paraná, no bairro São Geraldo, esconde um prédio deteriorado, considerado histórico, e que já foi espaço à recuperação da vida de diversas crianças. No local, funcionou o Hospital Santo Antônio, de 1953 até 2002, quando a unidade foi incorporada ao Complexo Santa Casa." Está lá o espaço num total abandono. Quem é o responsável? Está nas mãos de um "empreendedor" privado aguardando as benesses fiscais do chamado 4° Distrito. Recuperação dos prédios históricos? Enquanto isso, o poder local continua silente. Lembrando que o Hospital da Criança Santo Antônio foi feito pela solidariedade que, no passado, existia. Graças ao empenho do cronista do Correio do Povo, Archymedes Fortini, houve doação dos terrenos e sua construção. Por sua Memória, louvo suas atitudes.
Lembro que, em 2022, o Sindicato Médico lança campanha para evitar o fechamento da Beneficência Portuguesa. Estive neste movimento porque era vereador e fizemos a nossa parte. Esta instituição sesquicentenária está num vai e vem de vende X não vende. Está situada num prédio histórico tombado na Avenida Independência. Dívidas se acumulam.
Já o Hospital Ipiranga ressuscitou em 2023. Foi Hospital Santana, Ulbra etc. Mas em 2023 foi retomado por um grupo privado. Outro hospital de mesmo nome, Independência, foi reativado em 2021 durante o Coronavírus na Avenida Antônio de Carvalho.
O Hospital Porto Alegre de propriedade da Associação dos Funcionários Municipais é um caso de morte lenta. Há ainda disputas de pagamentos de dívidas, com cortes de relação da PMPA e IPÊ. Exigiria uma investigação maior. Aqui, sem dúvida, entram problemas de gestão, mas também de má vontade, como foi o caso do Hospital Parque Belém que continua fechado. Nascido como hospital para o combate à tísica e sua cura, sendo exemplar neste tratamento. Acabou virando uma referência no tratamento à dependência química. Por disputas políticas, institucionais, má vontade do poder local acabou morrendo.
Há forte crise se abatendo sobre o Instituto do Coração, colocando-o sob ameaça.
Mas o pior caso foi o chamado Hospital da Ulbra na Rua Álvaro Alvim. Com a falência pela Ulbra, passou para o Clínicas, que o largou, enquanto a Prefeitura nada fez. O prédio ainda era adequado. Foi vendido a um voraz construtor que botou tudo abaixo, em tempo recorde conseguiu as licenças, para fazer um edifício de luxo.
Esta é a nossa Porto Alegre que desdenha a saúde de seus moradores, que privilegia a especulação imobiliária, que não cuida de si e das pessoas.
Adeli Sell é professor, escritor, bacharel em Direito e vereador do PT em Porto Alegre.