O título é perfeito. É a última frase do último conto e sai da boca da personagem: Greice, prostituta, irmã gêmea da Kelly que estuda música; irmã do Sandro que é bicha que o pai bêbedo e machão quer matar. Gosta de bonés de marca e vai ganhar um da irmã.
Os contos do início ao fim são como a vida da maioria: dura, cortante e prenhe de infortúnios, como o vivido pelo jovem negro de comunidade que entra por cota na Faculdade, faz Informática e sai ganhando um baita salário e tira carro em sorteio de consórcio; mas mata a linda e empolgante namorada branca, não sabemos ao certo nem ele saberá se por impotência na hora do sexo ou uma frustração incontida.
É isso acontece na vida.
Mas não é jornalismo. Não é crônica policial. É boa literatura.
Há relatos de bêbados, estupradores, pedófilos e muita coisa ruim.
Como se vê na vida; sem glamour. Glamour está no face e no insta, mas passa longe dos escritos de Doralino Souza Rosa, que é jornalista. Ele capta a vida sem rodeios e é incrivelmente enriquecida com sua experiência de Conselheiro Tutelar
Dei uma bicada em dois contos.
Tem mais onze.
Treze contos densos, tocantes/chocantes e crus.
É de 2014, da Editora JM2D. É de Igrejinha. Faz uma revista Literária de primeira; Paranhana Literário - https://www.facebook.com/paranhanaliterario/
Estamos diante de um autor com incrível domínio de texto. São escritos visivelmente trabalhados como uma escultura, vem burilado, cortante quando tiver que ser; quase sempre será assim. Busco no âmago da sociedade, das famílias as histórias não ditas, mas vivemos com adoções ilegais, venda de crianças, estupros juvenis e sofrimento feminino ao extremo.
Ele é diferenciado e escreve de um jeito novo, estilo entrecortado para dar cadência ao enredo e sem afetação.
Vai longe.
Adeli Sell, professor, escritor e Bacharel em Direito