Fui apresentado à Nova República Literária de Santa Maria pelo jornalista, cineasta e escritor Ricardo Ritzel. Ele me presenteou com este "Meu Reino por uma cerveja", de Ronaldo Lippol, um misto de história, crônica e conto, tanto que não nomina seu gênero.
Isto em nada diminui sua escrita, pelo contrário, só o enleva a um patamar mais alto dentro deste novo movimento literário que se nota no Rio Grande do Sul, com grupos literários se organizando, como é o caso deste de Santa Maria. Soube agora de um no Vale do Paranhana.
Formado em Administração, lançou em 2009 "A culpa é do padre" e em 2011 "A culpa é do padre II, em busca da cerveja perfeita", além de articular e participar de obras coletivas.
Seu forte é a ironia e o humor. Tem sempre um pouco de mistério, o que me leva a crer que seja leitor dos bons textos policiais, tanto que cita brincando "O nome da Rosa", no último "conto" deste livro.
Dono de uma nanocervejaria, Old Lipp, Ronaldo viaja pela História da Cerveja, mesclando realidades e doses de ficção, mas que sempre nos puxam para este mundo fantástico de busca da cerveja perfeita, repete críticas às "pilsen" vagabundas que se toma mundo afora, confundindo quantidade com qualidade.
A nossa princesa Isabel teria dito ao senador escravocrata Barão do Cotegipe que perderia mil vezes o trono, mas não deixaria de sancionar a lei que aboliu a escravidão, assim nosso escritor daria qualquer trono por uma boa cerveja, como diz o título que comentamos.
O poeta Vitor Biasoli, autor de vários livros, com o editor Márcio Grings, ambos deste grupo literário de Santa Maria da Boca do Monte, apresentam o autor e livro.
Vitor fala que o livro é para quem tem sede de cerveja e muito mais. Muito mais mesmo. Já Márcio fala que nossa sede é insaciável, pois não há quantidade de cerveja que mate nossa sede. Sim, sede de cerveja boa é claro, mas de saber, de fazer, de conversar, de viver.
O autor viaja desde os faraós, passando pelo Código de Hamurabi, pelos mosteiros belgas em especial, nestes sim sabem fazer cerveja, brinca com os franceses que sabem dos bons vinhos e nada de cerveja, vai passando pelos russos e outros tantos.
Muito divertida é a passagem por Vlad, o vampiro, e mais do que tudo quando fala da cerveja do Führer, de Hitler, que não só passa pelo humor, mas nos assopra o quanto é cruel a banalidade do mal. O Mengele empurrando a mulher para fora do pequeno avião para salvar as cervejas do Führer é o melhor exemplo. Eis a grandeza da escrita e a maldade das pessoas.
Brinca com a derrota de Napoleão em Waterloo como também com a derrota de Solano Lopez em Cerro Corá, pois a bebedeira sempre é inimiga do bom senso e da capacidade de fazer a coisa certa, na hora certa. Os excessos tiram as pessoas do prumo.
Já o texto final, que chamo de conto, pois tem mais pinta de ficção, Ronaldo se puxa no enredo policial, brinca com alguns escritos e autores, como o próprio Umberto Eco, pois no texto aparece o enredo e passagens que dialogam com o grande "O nome da Rosa". Como o enredo se passa na Quarta Colônia, o autor puxa para a realidade local, lembrando uma figura histórica que é o Senador Alberto Pasqualini, ali enterrado.
De forma leve, o autor nos faz pensar no processo de produção da cerveja, o quanto foi e é importante o processo de sua criação e aperfeiçoamento, como o quanto homens e mulheres ainda precisam de um processo civilizatório para ser mais humanos, menos autoritários, menos invejosos.
Brindemos com uma boa "stout" que eu escolho - com outra de sua preferência, desde que seja "das boas", como deve ser a Literatura: boa!
Adeli Sell - Professor e escritor - adeli13601@gmail.com