ARTIGOS


Apontamentos acerca de “Porque era ela, Porque era eu”.

Carla Corleone nos brinda com seu novo livro: “Porque era ela, porque era eu”.

Estou com uma brecha nas minhas leituras e conhecimentos de gente nova na Literatura local. Já havia dito isto tempos atrás. Tenho me atracado em ler autores(as) por indicações de amigos(as) e nas buscas de comentários e resenhas que tenho encontrado.

Não conheço seu primeiro livro "O homem infelizmente tem que acabar". Ganhei este novo de um amigo e o li numa tacada ou fôlego, como se diz.

Como a Martha Medeiros aponta na "orelha" do livro ao apresentar a obra da autora, acho que a exploração com talento de duas narradoras foi um achado de narração. A ousadia como trata das duas amigas de cada uma delas dão profundidade, consistência e verossimilhança às narradoras como personagens reais e palpáveis. A ambientação que nos leva a bares e botecos da cidade é outra dádiva, pois são os locais como eles são, velhos conhecidos, com vida pujante e palpitante, com os sussurros, os olhares, lágrimas das vidas como elas são.

Clara, Clarissa são simples nomes ou teria mais alguma luz nelas? E como explicar Elaine e Denise; Camila e Marina? Simples, lendo o livro, ora.

A Martha Medeiros fala da ousadia e eu concordo. Clara Corleone faz isto na exploração das personagens femininas, desnudando a psique de cada uma, tanto pelas narradoras quanto das amigas que saltam do livro a cada frase com uma sabedoria, meio que dizendo que "o homem infelizmente tem que acabar”, homem do tipo oportunista e sanguessuga do Tarso, que vai "explorando" não só os sentimentos das mulheres, mas usufruindo dos bens delas. A forma despudora como trata o sexo, a intimidade, o lado alegre e triste das vidas é tocante e que dá, volto a dizer, grandeza e consistência às personagens.

Ela não só desvenda o personagem masculino na narrativa, mas os fantasmas de alguns outros, que vem e se apresentam belos e com desempenho exemplar uma vez cama, para sumirem em seguida, como se as mulheres fossem a coisificação de seus desejos e necessidades.

É um livro que “acaba” com alguns homens, é feminino-feminista, longe de ser um tratado panfletário. Pelo contrário, leitores(as) devem perceber que vidas querem para si, isto sim.

O fecho do livro é outra felicidade da autora, pois a vida pode ser bonita como a cena de Clara e Clarissa levantando os copos como se juntas estivessem a brindar com a saudação: "Saúde"! Isto sem nunca terem se falado. É uma sinergia que a autora cria entre as mulheres. É a empatia pela compreensão de suas vidas.

A escrita me lembra um pouco a Cláudia Tajes pelo texto claro, enxuto, ousado e despudorado.

Este romance - mostrando a força das mulheres - me levou a pensar em "Teresas de Itapuã'', da Gabriela Coral.

Para os tempos de mídias sociais, de olhos fixos em telas de celulares, nada como pegar um romance como este de Clara Corleone e esquecer –se daqueles aparelhos chatos que, às vezes, nos roubam o melhor de nossos minutos e horas.

Finalmente, quero estar certo com minha percepção de alguns tempos para cá, acho que começamos a ter uma geração de escritores (as) como tivemos nos finais de 70 e início dos anos 80.

Não quero errar.

 

 

Adeli Sell é professor e escritor