ARTIGOS


Uma outra Banda Oriental

Eis um livro primoroso de Poti Silveira Campos. Saiu em 2020 e estará na 67a. Feira do Livro de Porto Alegre, em 2021, com direito a autógrafos.

Poti é jornalista conhecido e de mão cheia, além de curtir “andar de bicicleta”. Poti Silveira Campos viveu livros e literatura desde cede com seu pai Arnaldo, escritor e livreiro, com sua mãe Iara, gerente por 20 anos da Editora Movimento.

Uma outra Banda Oriental” saiu pela Diadorim Editora, sob o comando do jornalista Flávio Ilha. Por sinal, Porto Alegre começa a ter pequenas e ousadas editoras nos últimos anos. E o Flávio lança também seu livro sobre o João Gilberto Noll, agora.

Sua leitura nos leva a apreciar ainda mais nosso vizinho Uruguai, com sua capital Montividéu, Taquarembó etc já desde a capa com a foto de um café, coisa que nossos vizinhos do Prata sabem apreciar e creio que aprendemos com eles trazer bons café para a nossa capital.

Na apresentação Vitor Ramil faz um resumo de tirar o fôlego para nos levar correndo a ler capitulo a capitulo.

De fato, temos em suas 120 páginas uma "outra" Banda Oriental, muito do que se desconhece está sinalizado, visto e, agora, apreendido nas linhas bem postas pelo Poti. A gente toma conhecimento do Carlos Gardel real, ícone do tango, que brota com seu nascimento no interior do país, com seu pai incestuoso, ditatorial, livrando-se dele criança. Ali sabemos mais do artista quando jovem e seu caminho até o primeiro show. Depois, já era mais fácil saber dele. Esta parte desconhecida é reveladora linha a linha.

A história do ouro do Uruguai é contada com detalhes, para desmistificar a lenda que sempre ouvimos que o os uruguaios nada produziam, que era contrabando daqui para a Suíça Meridional. Nada disto. Teve ouro e muito, deixando um rastro de gente quase escrava, humilhada, assassinada, uma natureza destroçada e nada de benefícios ao povo da Banda Oriental.

Uma das passagens mais marcantes são os relatos sobre Artigas, a quem aprendemos por aqui e na Argentina, ser um bandoleiro, um franco atirador. Mas que é mostrado na sua inteireza.

Somos levados ao Balneário de La Coronilla, apresentando-nos seus fantasmas e seus escombros pela mão dos ditadores dos anos 70-80 e por força de uma obra.

Poti usa a busca do túmulo do grande músico Alfredo Zitarrosa para nos levar aos cemitérios de Montevidéu, seus mistérios e seu estado.

Apresento uma ligeira resenha de alguns pontos deste livro que não só relata, mas nos leva à alma deste povo que soube separar o Estado da Igreja, que é esclarecido politicamente, lutador e se mostra tão ciente de sua cultura e de suas marcas diferenciadoras.

 

 

Adeli Sell é professor e escritor