Gabriela Coral é corajosa. Como médica deve cuidar de problemas complexos. Depois de escrever alguns contos (que ainda não li) teve a suprema coragem de ambientar uma história no Hospital Colônia de Itapuã, que muitos chamam de Leprosário.
A narradora e a melhor amiga dela vivem o drama da lepra, quando não haviam medicamentos que deixassem os infectados pela bactéria da hanseníase no convívio familiar e social.
Teresa tem uma sofrida vida de cozinheira que vem desde a avó, passando por seus pais. Ana também teve vida dura, com um estupro juvenil, mas depois, com ajuda, chega ao Curso de Direito. Elas se encontram em Itapuã e tem logo grande empatia.
Teresa vira jardineira, enfermeira, ajudando médicos, as rígidas irmãs, doentes, começa a pintar, dando vida a um local de seres presos à suas circunstâncias de seres deformados, pela ação da hanseníase.
Teresa é múltipla. Ela é como a soma de outras Teresas ou seus próprios desdobramentos. Ela como Ana, encaram esta outra vida, tornando elas amigas.
Ana acaba se envolvendo com o rebelde e alcoolista Anderson, amargurado por sua doença. Tem uma filha que por razões sanitárias e suas regras é retirada dela para ficar no Amparo Santa Cruz.
Teresa tentou, de várias formas, que ela não fosse para lá. Queria dar outro rumo à filha da amiga, mas nunca consegue, apesar das tentativas e ajudas do amigo jardineiro André e da enfermeira Clara.
A menina é raptada e se descobre que foi Matilde, mãe de Teresa, que a rapta pois Teresa falara, nos rápidos e estranhos encontros, que tinha com a transformada mãe a sua intenção.
Ana e Anderson por não transmitirem mais a doença saem da Colônia e Teresa numa visita vê Anderson sem camisa e vê o sinal do filho que Matilde, sua mãe, tivera com um amante, descobrindo ali seu meio irmão.
Destacaria a construção de três personagens emblemáticas, os dois médicos que transbordam humanidade no meio da desgraça e a encantadora psicóloga Marga, mãe de um deles, que voluntariamente vai atender pedido do filho e ajudar com suas ações heterodoxas Ana no período de suas crises puerperais.
A escritora Anna Mariano na contracapa do belo livro, planejado pela Clo Barcellos, editado pela Livretos, que Gabriela Coral mergulha " no mistério de um universo paralelo, dividido pela barreira da incompreensão e do medo, onde, no entanto, era possível ser feliz".
Belo livro. A capa do mineiro Gildasio Martins é um presente estético como a humana e fluente narrativa da médica e agora romancista Gabriela Coral.
Adeli Sell é professor e escritor