Há alguns dias a Câmara Municipal de Porto Alegre realizou uma Audiência Pública, para discutir a “urbanização” da Fazenda do Arado, no Bairro Belém Novo, Zona Sul de Porto Alegre.
Estes quase 500 hectares pertenciam à “fazenda” do Breno Caldas, antigo dono do jornal Correio do Povo, onde havia uma plantação de arroz, por ser área de várzea e alagada, bem como a criação de seus famosos cavalos.
Belém Novo é um bairro cujos moradores costumam falar que vão para a cidade, não ao Centro, ao se referir sair dali a beira do Lago Guaíba no Extremo Sul da capital.
Houve até um movimento para sua emancipação, pois é um quisto tipicamente interiorano da capital, com seus modos e afazeres bem característicos.
Nesta fazenda há construções, como as baias, casa que tem valor histórico-cultural para todos os moradores da capital.
Houve uma tentativa de um “projeto especial”, um mecanismo do Plano Diretor, que tem sido usado para burlar as diretrizes do próprio Plano.
A Justiça barrou liminarmente a proposição, e está em disputa, até porque não havia sido cumpridos os devidos trâmites como esta audiência pública.
Um vereador retoma o tema, propõe a audiência e, no meio de uma pandemia, uma “audiência pública” é realizada de forma remota, com a total ausência de moradores da região.
Houve forte participação dos movimentos ambientalistas, como algumas poucas pessoas que passaram o tempo do evento xingando todos os participantes, chegando às raias do absurdo intolerável, num mundo civilizado.
Haverá questionamentos na Câmara, por alguns dos atuais vereadores, como também da sociedade civil.
O local será completamente aterrado, acabando com áreas alagadas, com pequenos charcos, vertentes, interferindo diretamente no ambiente natural.
Fala-se em compensações que em nada ajudam ou colaboram com a região atingida.
Ademais, este condomínio de altíssimo luxo e custo, interferirá na mobilidade da região, já afetada por outro condomínio antes da chegada ao “centrinho” do Belém Novo, como agora no seu percurso de saída para o Lami e outros bairros, pois as vias são estreitas.
A descaracterização será total sob o ponto de vista histórico, paisagístico, ambiental.
ADELI SELL é bacharel em Direito, escritor e consultor.