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Diógenes Júnior - São tempos difíceis para sonhadores

A frase acima é de um filme extremamente simpático, “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” produção francesa realizada em 2001 mas cujo título, transportado para os dias atuais, retrata bem o sentimento de grande parte da população brasileira e, ouso dizer, do restante do mundo.

Nós que sonhamos, e confesso que sempre me vi como sonhador, mesmo nos momentos em que vivi um pesadelo, como agora, sempre soubemos o quão difícil é sonhar quando há tantas forças nefastas destruindo não apenas os sonhos que conseguimos realizar, com grande dificuldade, mas também com nossa capacidade de sonhar.

Porque tal capacidade, a capacidade de sonhar, sempre caminhou de mãos dadas com a esperança.
Estão intrinsecamente ligadas tais capacidades.
Sem esperança não há sonho possível.

A pandemia veio destruir muitas vidas e sonhos, embora há quem sonhe que a pandemia tornará a humanidade melhor, de alguma maneira.
Quanto a isso, perdi as esperanças.

Ao ver tanta gente negando a Ciência, relativizando mortes e colocando suas questões de ordem econômica, estritamente pessoais, acima da coletividade, não há como sonhar com um mundo, um lugar menos inóspito para se viver.

Voltando ao filme que dá título ao texto, a protagonista, Amélie, é uma jovem do interior da França que se muda para Paris e logo começa a trabalhar em um café. Certo dia ela encontra uma caixinha dentro de seu apartamento e decide procurar o
dono.
A partir daí, sua perspectiva de vida muda radicalmente.

A caixinha, mas sobretudo a esperança de encontrar o dono da caixinha passa a ser a sonho de Amélie, a esperança que passa a mover todos os seus sonhos.

Amélie Poulain, para quem não assistiu o filme me perdoe o spoiler, consegue encontrar o dono da caixinha, Dominique.

Ao ver que ele chora de alegria ao reaver seu objeto, a moça fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo.

Então, a partir de pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo sentido para sua existência.

Creio que todos nós, principalmente o povo brasileiro, também encontrou uma caixinha.

E me perdoem mais uma vez pela desesperança, mas a caixinha que encontramos é uma Caixa de Pandora.

Segundo a Mitologia Grega, dentro da Caixa de Pandora havia todos os males do mundo, e Pandora, ao abrir tal caixa, deixou que todos esses males saíssem.

Menos a esperança.

Porque dentro daquela caixa (na verdade um jarro) havia as desgraças, mas havia também esperança.

Acho que está mais que na hora de voltarmos a sonhar, resgatar a esperança que tem de existir, mesmo em meio à tantas desgraças, e nos reconciliarmos com nossa essência, que tenho mais que certeza é a mesma de Amélie Poulain.

Ajudar as pessoas que nos rodeiam, vendo nisto um novo sentido para nossa existência.

Ontem assisti dois filmes, absolutamente antagônicos.
Amelie Poulain, que versa sobre esperança.

Assisti também “Coringa” que fala de caos, de violência e desesperança.

Gostaria de não escrever sobre “Coringa” em meu próximo texto.

Enquanto Arthur Fleck, o protagonista de “Coringa” dizia “eu nunca me importei muito com o conceito de inferno, mas se ele existe, eu estou nele”, a melhor amiga de Amélie Poulain dizia:

“A vida é bela, apesar de tudo.”

 

 

Diógenes Júnior é escritor, técnico em Informática e acadêmico em História. Paulistano de nascimento, caiçara de coração e porto alegrense por opção, escreve para essa coluna semanalmente.