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Diógenes Júnior - Se estivesse viva, a Constituição Cidadã completaria 32 anos

No dia 05 de outubro de 1988 Ulysses Guimarães, o deputado federal que, por conta de sua luta ficou conhecido como “Doutor Diretas” anunciava o resultado de anos de trabalho.
Estava promulgada a Constituição Federal da República, que ficou conhecida como “Constituição Cidadã”.
O país havia recém saído de uma ditadura militar que perseguiu, sequestrou, torturou, matou e ocultou o cadáver dos brasileiros que ousaram lutar e defender valores democráticos, além de fazer o mesmo com outros brasileiros que sequer eram envolvidos com política.
A ditadura militar foi nefasta sob todos os aspectos.
Ao decretar encerrados os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, convocada em 1986 especificamente para redigir a Carta Magna da nação e promulgar a Constituição Federal, Ulisses Guimarães disse:
“A sociedade foi Rubens Paivanão os facínoras que o mataram.”
Rubens Paiva, também deputado, foi sequestrado, torturado e morto pelas forças de repressão da ditadura militar em janeiro de 1971.
Seu corpo jamais foi encontrado.
O documento promulgado em 1988, elaborado pelos deputados constituintes, foi uma espécie de ponte pela qual a sociedade à qual se referiu Ulisses Guimarães pode passar, deixando para trás o abismo representado pela ditadura militar, tendo na outra margem a esperança da construção de uma sociedade mais justa, baseada em valores democráticos e na busca de justiça social.
Infelizmente esses ideais, assim como outros valores, foram rasgados por conta do golpe que apeou uma presidenta democraticamente eleita, eleita pela maioria da população brasileira, quer alguns queiram, querem outros não.
Dilma Rousseff.
Interromper de maneira irresponsável o mandato de uma presidenta que restou comprovado jamais cometeu crime algum foi o primeiro passo para o descalabro que vivemos agora.
Em 2016 alguns setores antidemocráticos resolveram tomar o poder através de um atalho, o atalho do golpe.
Não puderam esperar as eleições que viriam posteriormente, e resolveram não apenas rasgar a Constituição, mas assassiná-la.
Poderiam tais setores aguardar 2018, mas não.
Ainda em 2014 contestaram os resultados do sufrágio nacional, causando a partir dali uma série de desestabilizações que culminaram no golpe e, por sua vez, na criminalização da política de tal forma que talvez o pior político da História do país fosse posteriormente eleito presidente.
Se estivesse viva, a Constituição Federal completaria hoje 32 anos.
Se tivesse sido respeitada, nossa História talvez não fosse tão triste, e nossos destinos e os destinos do país certamente teriam sido menos tortuosos, menos dramáticos e certamente diferentes.  

Diógenes Júnior é escritor, técnico em Informática e acadêmico em História. Paulistano de nascimento, caiçara de coração e porto alegrense por opção, escreve para essa coluna semanalmente.