COLUNISTAS


Diógenes Júnior - Paulo Guedes, um assassino de povos, sonhos e livros

"O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes."
Cora Coralina

A sociedade brasileira como a conhecemos, profundamente injusta, todavia ainda uma sociedade, tem sido atacada de diversas maneiras.
Por sociedade podemos pressupor uma reunião de todos os segmentos da população convivendo harmoniosamente, por assim dizer e dentro de limites possíveis ou seja, num ambiente de respeito à diversidade de pensamento e ideais mormente políticos, de costumes, morais, científicos e de cunho religioso.
O povo brasileiro, matéria prima fundamental do tecido social que veste o Brasil jamais, desde o ocaso da ditadura militar e posteriormente da tentativa de redemocratização pensada nas páginas da Constituição Cidadã de 1988, jamais o povo brasileiro se insurgiu contra a Cultura, e mais especificamente os livros, tema central deste artigo.
Os livros sempre foram uma espécie de símbolo de algo que todos almejam.
Dentro de suas páginas o conteúdo que eleva o homem intelectual, emocional, espiritual, material e politicamente.
De suas páginas fluindo águas límpidas, fontes de água viva jorrando sabedoria e ensino, cura, ensinamento, diversão e entretenimento.
De suas páginas vertendo a fantasia que alimenta a imaginação, as Letras Sagradas que alimentam a fé, os ensinamentos que aumentam a sapiência, as rimas e prosas que alegram a vida.
Os livros jamais foram inimigos do povo brasileiro.
Muito pelo contrário, intocáveis até ontem os livros seguiam como nossos parceiros, caminhando de mãos dadas com o desejo de evolução do povo brasileiro. .
A função do livro na sociedade não restava questionada e, desde a tentativa de redemocratização do Brasil não se tinha notícia de algum ataque ao livro como ferramenta de inclusão social, ou mesmo símbolo de humanidade.
Porque antes da redemocratização, ou seja durante a ditadura militar, o Brasil viveu um momento de cegueira, semelhante ao momento de cegueira que se insinua e está se repetindo nos dias atuais.
O povo brasileiro à época da ditadura militar jogou livros na pira do ódio e do obscurantismo, da negação da Ciência e da Política, um período onde se adotou a violência inclusive física em detrimento do diálogo.
Àquela época o povo brasileiro, incentivado por sentimentos autoritários absolutamente excludentes, alimentou o fogo da injustiça social com os livros dos grandes pensadores que lutavam por um país melhor, escritores que lutavam justamente contra a injustiça social que, de todos os males que assolam o país, é o nosso pior mal.
É com muita tristeza que vejo tais ataques se repetindo, simbolicamente é verdade, mas não deixam de ser ataques.
Dentro da dinâmica de terra arrasada na qual o atual governo federal dita os rumos do país, Paulo Guedes, Ministro da Economia, tristemente célebre por sua absoluta falta de empatia e sensibilidade para com o povo brasileiro e ainda mais tristemente célebre por ter feito parte de uma das mais assassinas e cruéis ditaduras da história da América Latina, a ditadura Pinochet no Chile (1973/1990) ditadura militar responsável pela morte de mais de 30.000 pessoas e incontáveis casos de tortura, Paulo Guedes resolveu declarar guerra aos livros.
Veja você caro leitor, no momento em que enfrentamos o pior inimigo de nossa existência, a pandemia causada pelo Coronavírus, o homem que detém em suas mãos as chaves dos cofres da nação, o homem que tem praticamente poder de vida e morte sobre toda a população resolve declarar guerra aos livros, símbolos da Ciência.
É uma declaração de guerra à Ciência a tributação de livros proposta por Paulo Guedes. 
Há uma simbologia nesse gesto, uma macabra simbologia.
Ao declarar guerra aos livros, ameaçando-os de maior taxação fiscal, Paulo Guedes dá um recado, fortemente identificado com o ideário de inimigo da Ciência que o governo do qual ele faz parte como homem forte, representa.
"Livros é coisa de elite", disse ele, assassinando também a concordância verbal e a Língua Portuguesa.
Num país que não cobra tributos de jet skis, nem de helicópteros nem de grandes fortunas, taxar livros é mais que um escárnio.
É um assassinato. É uma afronta.
De onde retirarão os brasileiros, homens e mulheres, jovens e adultos e por que não também os brasileiros mais maduros os saberes necessários para ascenderem socialmente senão dos livros?
Paulo Guedes com sua fala desastrosa, outra entre tantas, assassinou a concordância verbal e Língua Portuguesa, mas sua intenção de fato é matar os sonhos do povo brasileiro.
Na sangrenta ditadura chilena, da qual Paulo Guedes fez parte, a tributação de livros atingiu o segundo maior patamar no mundo.
Simbolicamente Paulo Guedes vê no Brasil a oportunidade de reeditar os horrores daquela ditadura militar.
Triste país é o Brasil que permite o assassinato de seus livros e de seus sonhos.
Triste país é o Brasil, que aplaude Paulo Guedes, mas se esquece de Cora Coralina e seus saberes.

"O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes."


Diógenes Júnior é escritor, técnico em Informática e acadêmico em História. Paulistano de nascimento, caiçara de coração e porto alegrense por opção, escreve para essa coluna semanalmente.