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Diógenes Júnior - Mercado Público de Porto Alegre, patrimônio histórico e cultural de nossa cidade

Uma das recordações mais antigas como morador na cidade de Porto Alegre, se é que posso considerar  minha estada na cidade como "antiga", é a primeira visita que fiz ao Mercado Público Municipal.
Foi logo após chegar em nossa cidade, logo no segundo dia.
Corria o ano de 2015. Eu morava, como ainda moro, perto da Restinga, e não conhecia absolutamente nada na cidade além do Mercado Público, que conhecia de ouvir falar.
Eu só sabia tomar o ônibus, descer na Borges com a Salgado e apear até o Mercado.
Isso eu sabia.
Eram grandes e constantes as mobilizações dos servidores públicos e simpatizantes, estudantes, população em geral, contra as políticas de desmonte público que começavam a se desenhar no horizonte político do Rio Grande do Sul, implementadas por um governo estadual que, à exemplo do atual, não tem o menor compromisso com a população gaúcha.
Como paulista, recém me tornado gaúcho porto alegrense, era grande minha curiosidade para saber todas as coisas da cidade.
Me familiarizar com suas peculiaridades, sendo que uma delas, como na grande maioria das cidades, é o encanto, a mística, o charme de seu Mercado Público.
Os Mercados Públicos, espalhados nas cidades do Brasil e no mundo, tradicionalmente são locais de encontros, locais onde nossos costumes, tradições e cultura se mantém vivos.
É no Mercado Público que você encontra o que está procurando, até porque lá tem de tudo.
Eu por exemplo, durante esses cinco anos naturalizado porto alegrense, por diversas vezes cortei meu cabelo na clássica barbearia que está há anos instalada no primeiro andar do Mercado.
Quando eu trabalhava no Centro Histórico, perdi as contas de quantas vezes utilizei os caixas eletrônicos do Banrisul, instalados estratégica e geograficamente bem no meio do Mercado, sendo muito mais rápido utilizá-los do que ir até a agência daquele banco, a mais próxima dentro da Galeria do Rosário.
Ou quantas vezes comprei comida saudável na Lojinha da Reforma Agrária, ou me encontrei com algum amigo para tomar uma taça de café e comer uma torrada nas tradicionais bancas.
E nas festas de final de ano, então? A oferta de produtos de primeira qualidade, com preços muito mais acessíveis do que em qualquer outro lugar da cidade?
É que eu gosto de gente também, sabe? E no Mercado Público é o lugar para se encontrar gente do povo, a qualquer dia e hora, dentro do seu horário de funcionamento.
Eu muitíssimo lamento mais essa investida do prefeito Nelson Marchezan (PSDB/RS) contra o  patrimônio vivo e pujante de nossa cidade.
A privatização do Mercado Público na verdade não atende os interesses da municipalidade, menos ainda de seus moradores.
Trará desemprego, aumento de preços e uma elitização do local onde está instalado.
Porque não nos enganemos, o que querem de fato os "defensores" dessa aberração que é a tentativa de privatização do Mercado Púbico é a elitização do local, transformando aquilo que é um patrimônio público e eu gosto de ressaltar que é inclusive um patrimônio cultural, em mais um shopping center apenas para alguns poucos porto alegrenses.
Sem alma, sem graça, elitizado, desprovido do encanto e do charme, e sobretudo das mil e umas utilidades do nosso Mercado.
Eu gostaria de pedir a para você que me lê que empunhasse também essa bandeira, a bandeira da defesa e manutenção desse importante espaço público, que é de todos.
Essa bandeira de luta é tua também.
Nós não precisamos de mais um shopping center em nossa cidade.
Nós precisamos cada vez mais de espaços públicos.
Passada essa pandemia as pessoas deverão se encontrar, coisa que há tempos não fazem. 
E existe melhor lugar em Porto Alegre para se encontrar e para ser encontrado que o Mercado Público? 
A população precisa da manutenção desse lugar onde ela se sente bem, onde ela encontra os produtos que necessita, um local simpático e solidário, que tem toda uma identidade com ela e com a cidade.
O nosso Mercado Público, patrimônio histórico e cultural da cidade de Porto Alegre. 

Diógenes Júnior é escritor, técnico em Informática e acadêmico em História. Paulistano de nascimento, caiçara de coração e porto alegrense por opção, escreve para essa coluna semanalmente.