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Diógenes Júnior - Os ventos de morte que sopram em Porto Alegre

A negação da Ciência e o desprezo pela vida do próximo, juntamente com o egoísmo aliado a altíssimas doses de hedonismo caminham de mãos dadas para sacrificar a vida da cidadão  porto alegrense no altar do Coronavírus.

As praças, bares e parques da cidade seguem lotados, frequentados por boa parte da população.

Tais pessoas, irresponsavelmente, expõe suas vidas ao contágio pelo Coronavírus através de aglomerações sociais desnecessárias.
Em matéria sobre o tema, publicada por um jornal local, os palpiteiros de internet de sempre exibiram suas musculaturas hercúleas.
Músculos, sem cérebro.
E o que é pior, sem sensibilidade ou sequer algum resquício de humanidade.

"Meu direito de ir e vir", "tem de abrir o comércio", "todo mundo vai pegar o vírus mesmo" ou o pior de todos os comentários, "a cloroquina tem apresentado resultados nessa luta contra o vírus".
Quando um palpiteiro de internet travestido de cidadão perde o pudor, admitindo que se preocupa tão e exclusivamente com seu próprio prazer, ou com a prosperidade de seu empreendimento comercial, fracassamos como cidade.

A sociedade porto alegrense está à beira de cair no abismo, tropeçando em sua própria vaidade.
Parece que nossa cidade deseja mesmo imitar o gesto do genocida que está presidente, erguendo nas mãos uma caixa de cloroquina, orgulhando-se de sua própria estupidez e irresponsabilidade.  

Parte da população de Porto Alegre imita a irresponsabilidade de Jair Bolsonaro.
Quanto tempo demorará para que algum cidadão porto alegrense morra, intoxicando-se com cloroquina?
Acredito que a atitude de desrespeitar as orientações de isolamento social são um gesto emblemático.
É o signo de um tempo, é uma espécie de “Zeitgeist” de sinal trocado.
N. do E: Zeitgeist é um vocábulo alemão cuja tradução literal significa espírito da época, espírito do tempo ou sinal dos tempos. Zeitgeist pode ser definido também como um conjunto de circunstâncias, o clima intelectual e cultural de um determinado lugar numa determinada época, as características peculiares de um determinado período de tempo.
Quando alguém despreza a vida do seu próximo, indiretamente é cúmplice de genocídio, tanto quanto o presidente tem praticado.
Atentando contra a própria vida, tal pessoa é uma contradição em si mesma.
A porteira da estupidez, por onde galopa a morte, jaz escancarada.
Talvez a diferença que se dará entre a Berlim dos anos 30 e a Porto Alegre (em particular) e o restante do Brasil (em geral) da atualidade é que em Berlim foram queimados livros, e na Porto Alegre que emula gestos do bolsonarismo serão jogados na pira ardente do ódio e da negação da Ciência vidas humanas, sendo que na maior parte sacrificadas à revelia.

Porque o grande crime que comete quem desrespeita o isolamento social é a possibilidade de contaminar outra pessoa que nada tem a ver com a negação da Ciência que pratica o portador voluntário do Coronavírus.
É trágico o momento pelo qual passamos.
Infelizmente o Zeitgeist dessa gente está vencendo.
Os ventos que sopram nos bares, praças e parques de Porto Alegre são os ventos do egoísmo, da falta de solidariedade e da falta de empatia.
São ventos de morte e embrutecimento.
São ventos de irresponsabilidade.

Quanto a você que me lê, é com carinho que te peço: não desista.
Resista.
FIQUE EM CASA! 

Diógenes Júnior é escritor, técnico em Informática e acadêmico em História. Paulistano de nascimento, caiçara de coração e porto alegrense por opção, escreve para essa coluna semanalmente.