ARTIGOS


Inês da minha alma (Adeli Sell)

Isabel Allende, romancista chilena, produziu obras marcantes, como Casa dos Espíritos, entre outros romances. Para elaborar este "romance histórico " foi buscar na História da fundação do Chile, todas as travessias do eurocentrismo e da violência dos espanhóis no Continente para chegar ao destino desta mulher sonhadora, lutadora, audaz que abraçou uma causa e amou sempre de verdade, fincando raiz com Pedro de Valdivia na Santiago dos primórdios de 1500 e poucos: Inês Suarez, a quem Valdivia não se cansava de repetir o bordão de fé e amor a ela - INÊS DA MINHA ALMA!

            Resenhar uma obra desta grandeza seria escrever um tratado, e me falta a técnica e o tempo, ou melhor, a falta dele.

            Na verdade, escrevo para influenciar o seu tempo, rouba-lo das futilidades das redes sociais, com um convite para esta travessia de mais de 300 páginas de pura emoção e ensinamentos.        

            Foi também num 11 de setembro que se fincou o marco em Santiago, nesta cruzada por mares revoltos, florestas, pântanos e desertos. Frio, calor, fome e sede que abatem seres e almas. A ganância, o poder, a fortuna, junto com as desgraças, desmancham pessoas e almas no ar, restando para a História a bravura e a generalidade, e como mancha impagável, a crueldade do espanhol contra os índios e junto não só resta, como se sobressai, o heroísmo, a bravura e a alma indômita dos mapuchos, únicos que nenhum outro ser dobrou ou domesticou.

            Isabel Allende nos leva a descobrir nosso Continente e em especial este Chile que a todos encanta até hoje, mas mais do que a "história" que subjaz em toda a travessia, o que fica mais eloquente a cada passo dado nas dificuldades e nas páginas viradas é a força da mulher, não só desta Inês, mas da Cecília Inca e de todas as outras com ou sem nome, como ainda acontece lá e aqui.

            É uma história como a da humanidade, de vencedores e vencidos, da amores e ódios, de lealdade e traição. 

            É a alma nossa como a Inês da minha alma para o Pedro de Valdivia ou os silêncios e olhares de Rodrigo de Quiroga. São gritos e sussurros. São tocaias e llutas cara a cara. Saber e credulidade. Tudo se acha ali quando a alma não é pequena.

            Leia e verás que o terror de cabeças rolando se dissipa nas noites de amor dos amantes. Morte e vida - nesta dicotomia do mundo Sisifo - traz a dialética da continuidade da Humanidade.

            Ler é também viver. 

 

 

Adeli Sell é professor de Literatura