ARTIGOS


A insustentável marca do relho (Adeli Sell)

No Rio Grande do Sul, criaram-se vários símbolos por lei, afinal é preciso positivar quando falta o bom costume, coisas mal herdadas. 
Está na Lei o cavalo crioulo, o brinco-de-princesa, a macela, o quero-quero, a erva mate, o chimarrão e o churrasco.
São leis que não servem para nada, nada de modelo para um(a) gaúcho(a), que dirá servir de modelo para toda a Terra.
Mas estas coisas são apenas perda de tempo dos parlamentares. Em vez de levantar a voz contra o autoritarismo, a tecnocracia, a centralização dos impostos - tudo sob comando do Planalto Central - ficam criando leis inócuas.
O relho, o chicote, a chibata, o mango não eram símbolos até agora. Não havia ainda um babaca para soprar esta genialidade para outro babaca até agora.
Mas o relho, com sua insustentável marca, virou símbolo do atraso, da covardia, da neurastenia impotente, como leio em Freud.
No artigo 32 da Lei dos Crimes Ambientais “ferir animais” é crime.
Os humanos também são animais, uma diferente dos nossos queridos quero-quero e cavalo crioulo, mas os covardes não distinguem nada no mundo real, eles só veem o seu mundo, irreal, enfadonho, do atraso, do conservadorismo, do ódio e do rancor.
De nada adianta este ser bizarro ter um trator computadorizado, ele monta o crioulo, usando esporas e relho no pobre animal, como agora usa contra mulheres. Não é de graça que algumas músicas gaudérias falam o que falam da morocha, esta guria mestiça, como uma égua fosse, que se palanqueia.
Disse-me alguém um dia que “o golpe do chicote deixa marcas na carne; mas o golpe da língua quebra os ossos”.
Não. Estes golpes de relhos em Bagé, Passo Fundo e por aí afora são golpes que deixam marcas na carne, quebram os ossos, roubam a alma da dignidade da pessoa humana.
E aí me pergunto onde estão os guardiões da Lei. Tem Ministério Público em prédios com salas bem acarpetadas nestas Comarcas. Será que tem janelas para a vida e os ataques contra ela¿ 
Ouvi um jovem estancieiro falando e me dei conta que se tratava de um espécime de dominação masculina profana. De uma forma ou de outra, vimos um bando de profanos.
Nós estamos aqui para crescer no bem-estar, não na malvadeza.
Meu grito de nojo e de revolta contra tudo o que for opressivo, machista, atrasado e conservador.
Viva a liberdade, a fraternidade, a igualdade, a dignidade e a democracia.
Vocês não vão vencer!