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Para onde vai nossa Porto Alegre? - Adeli Sell

Dia 26 de março, Porto Alegre completa 246 anos. Ainda somos uma jovem metrópole, se comparada a São Paulo, Rio ou Recife. Mas temos o dobro de vida de Belo Horizonte.  E não se trata de discutir tamanho ou densidade geográfica.

Para entender o presente é preciso analisar o passado. Quando Belo Horizonte se formava, Porto Alegre era uma resplandecente cidade em processo de modernização. Nossa Associação Comercial beirava 40 anos como nosso Teatro São Pedro. Porto Alegre tinha no início do século XX uma forte vida social e cultural.

O Clube do Comércio tem um ano a mais que BH. O mais incrível e moderno cabaré-restaurante-cassino -, nunca havendo nada igual, o Club dos Caçadores surgia com a Primeira Guerra, por obra do seu Lulu, que também nos legou sua casa, hoje Hotel Praça da Matriz. As primeiras faculdades nossas são centenárias.

E por que razão, demos as costas ao Guaíba, tirando ou dificultando o atracadouro para o Cisne Branco? Qual a razão para o abandono do Porto sem investir na ampliação de seu calado? Por que "cargas de água" acabaram com nossos bondes, arrancando os trilhos sem deixar sinal?

Quem "inventou" o fim do trenzinho da Tristeza? Lembram que o Thompson pensou em botar abaixo o nosso Mercado Público? Brindaremos aos 150 anos do Mercado Público no ano que vem. Não conseguiu derrubar o Mercado, porque o povo se rebelou.

Em 1972, o senhor Marcos Rubin destruiu, ali, depois da Antônio de Carvalho, a "Casa Branca dos Farrapos”, marco dos encontros dos rebeldes, para ser depois homenageado com seu nome a um magnífico parque na região. Esta história está bem relatada em livro do Walter Galvani

Lembrando que, no final dos anos 20, o Protásio Alves mandou seu filho dizer ao prefeito Otávio Rocha para plantar árvores nas calçadas, como se fazia no Rio. Agora, temos tocos por todos os lados e cuidado e zelo zero.

No Largo de Medeiros, fizerem uma barreira na rua, agora tomada de camelôs ilegais, distante daquele ponto de efervescência política e cultural da metade do século passado.

A gente tinha o Café Rian, onde dezenas de xícaras de café chamavam papo e congraçamento; agora, tem uma das nove farmácias daquele trecho. Casas de comércio de primeira – Sloper, Louro - e cafés dão lugar a lojas de biju e as pedras de granito em mosaico dão lugar a uma calçada quebrada.

Camelôs ilegais tomam conta da cidade. Os idosos tropeçam em tudo; cego e cadeirantes nem vem mais ao Centro. Ladrões e punguistas são conhecidos, e a polícia é humilhada.

Não tem mais "footing" e nenhum cinema de rua. A Praça da Matriz e da Alfândega causam medo. A dignidade da pessoa humana está aplastada nos acampamentos de moradores de rua.

E para onde vai Porto Alegre?

Se não reagirmos, como no caso da tentativa de destruição do Mercado Público, vamos acabar como uma cidadezinha provinciana.

Mas acho que chegamos ao fundo do poço, descida iniciada no dia do fim do bonde, e com a oposição ao chefe do Paço Municipal, oposição ao atraso, à burocracia, ao conservadorismo vamos voltar a ter alguns de nossos títulos pregressos: a mais bela, moderna e solidária!

Viva Porto Alegre!