ARTIGOS


Um contista a revelar (Adeli Sell)

Conheci o Luiz Filipe Varella como orquidófilo e já me aprazia sua ousadia e senso de responsabilidade.

Soube depois que era advogado tributarista.

Há dias solicitei um papo com ele sobre o Mobiliário Urbano, especialmente para debater as paredes verdes (vivas), flores, grafite. Marcamos como gosto de fazer, num café.  Depois do papo, ele me alcança seu “Um guarda-sol na noite”, livro de contos, dizendo que sabendo ser leitor “voraz” (isso é por conta dele).

Dali para o Centro, no ônibus, li três contos. E eis que descubro um escritor de mão cheia.

Poderia ter presumido quando vi que a orelha era assinada pela grande Léa Masina, ademais quando li:

“E o autor surpreende ao recortar a cada instante a matéria comum da vida, destacando-a para transformá-la em situação extraordinária, que ressingnifica por um epílogo inesperado.”

E é exatamente esta a minha sensação e apreensão dos seus contos. Varella fala do cotidiano, das famílias, amores, do trabalho para, a cada parágrafo, cortar, recortar e nos surpreender com atos que quebram a narrativa, nos surpreendendo com algo novo, mas sempre verossímil.  Apesar de não ser comum ou normal, mas sempre  verdadeiro e que tudo isso bate em nós com emoção, fazendo-nos pensar e sonhar com o que foi descrito e o que poderá ser.  Seus contos são abertos, sempre em  busca de soluções que serão retomadas do conto anterior ou que vão aparecer no seguinte.

Lendo, fiquei pensando na cadência da escrita do Rubem Fonseca; porém menos visceralmente violento o conteúdo, mas tão ou mais aguda a solução de vida de suas personagens.

Pensei também nos escritos de Dalton Trevisan – quem eu já tinha quase esquecido – com suas pitadas de sensualidade, chegando à luxúria ou até mesmo à perversão, pelo sexo reprimido.

Sempre realista e natural, Varella explora coração e mente com profunda busca psicológica das suas personagens.

“Um guarda-sol na noite”, de Luiz Filipe Varella, tem linguagem simples, seca e direta. Tem parágrafos curtos, densos, sem sobras e sem rodeiros, que iriam encantar um Graciliano Ramos.

Estamos diante de um contista que estava a ser revelado.

Que venham mais contos, Varella. Parabéns a Dublinense por apostar em gente da terra.