ARTIGOS


Tempos de desobediência civil - Adeli Sell

Há 200 anos nascia um americano de fibra e de grande integridade intelectual e moral: Henry David Thoreau que passou uma noite na cadeia por se negar a pagar impostos que seriam usados para a manutenção da escravidão e para a política expansionista americana no México. É de sua autoria o clássico da filosofia ocidental: “A desobediência Civil”.

            “Os errantes são aqueles que estão em casa, em toda a parte”, disse Thoreau. Sou daqueles que comunga com ele, passado tanto tempo. Thoreau, como Lincoln, Emerson, Walt Whitman, Nathaniel Hawthorne ainda tocam nossas mentes e corações, numa caminhada em defesa da dignidade humana; num momento em que uma minoria branca, extremista radical nazista vai às ruas para propor o ódio; num momento em que mais um extremista mata em Barcelona. É imperioso lembrar Walden, na defesa de uma vida simples que hoje chamaríamos de “sustentável”.

            Em boa hora a Unisinos faz um colóquio para lembrar este lutador social.

            Não poderia me omitir nestes trágicos dias que vivemos com massacres de camponeses e índios, mortes de moradores de rua, violência e mortes contra a comunidade LGBT e outros grupos.

            O racismo está longe de terminar em nosso país. Como lembrei estes americanos, lembro dos grandes Francisco do Nascimento, Castro Alves, André Rebouças, Francisco de Paula Brito, Luis Gama, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e é claro Zumbi dos Palmares.

            Aqui, tentam trocar nomes de ruas; outros desaparecem dos livros. Agora querem nos impor a Lei da Mordaça, quando deveríamos, diante das inequidades, propor a desobediência civil como propunha Henry David Thoreau para enfrentar aqueles do passado.

            Como ele, repito “São precisas duas pessoas para falar a verdade, uma para falar, e outra para ouvir”.