ARTIGOS


O último bonde

No centenário de Josué Guimarães, muitos citam seu livro O último trem, como um clássico. O tem razão. Na escrita e na simbologia para entender mesmo na ficção um pouco de nossa História.

Em 2010, lançamos nosso PORTO ALEGRE – A MODERNIDADE SUSPENSA. Com aqueles escritos apontávamos que a partir de um certo momento a capital porto-alegrense começara a sua debacle em vários de seus pontos estruturantes.

Na época, não alinhavei nem um ponto nem outros elementos, mas parecia estar na década de 70 este marco.

Depois de uma década de estudos e pesquisas, tivemos a certeza que o marco era o dia em que o último bonde parara no Centro Histórico: 08 de março de 1970.

Em 2021, lendo a Breve História de Porto Alegre, do historiador Charles Monteiro, na página 95 com uma citação do jornalista Alberto André numa crônica de 1971: “Porto Alegre – A Nova Imagem”. Neste texto Alberto André que também fora vereador da capital se que “(...) o último bonde carregou a velha paisagem de Porto Alegre (...)”.

E conclui sua crônica dizendo:

Nós os homens da veterança guarda sentimos ter ficado para trás a que foi a nossa cidade.”

E corretamente o historiador Charles Monteiro diz:

Chega-se ao fim de uma cultura urbana ligada às experiências sociais das elites e camadas médias nos café, confeitarias, bares e restaurantes do Centro da cidade.”

O prefeito era o engenheiro Thompson Flores, combatido num setor da mídia local como T.T.Flowers. Lembramos que este gestor foi derrotado em seu intuito em demolir nosso histórico Mercado Público. Mas foi ele que botou abaixo o prédio histórico da 3ª. Cia da Polícia do Exército.

Para fazer a Elevada da Conceição botou abaixo o histórico prédio chamado de Castelinho, a antiga Estação Ferroviária. Sobrou o Edifício Ely, que também queria botar abaixo.

O prédio do Mercado Livre também foi por ele foi botado abaixo para a abertura da linha da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb).

Havia na época uma propaganda da empresa Mercur falando em “Thompson City”, outra foto exposta nos jornais falava “Queremos uma Porto Alegre sem Contrastes” para falar das pessoas deslocadas para a Restinga. Ora, ora. Deu no que deu o que Célio Marques Fernandes e Thompson iniciaram.

Ainda em sua gestão em novembro de 1974, depois de tiradas as lindas pedras da Rua da Praia nos é ofertada um calçadão. Atualmente com um piso totalmente danificado.

A lista é longa.

A nossa convicção é a mesma de Alberto André: o bonde é o marco de Antes e do Depois.

Este tema merece um livro sob o ponto de vista do urbanismo e da arquitetura, mas se casa com questões de costume, de economia etc.

 

 

Adeli Sell, escritor e consultor.