Este não é mais um texto sobre o coronavírus, as batalhas dos profissionais de saúde e o total descrédito do presidente Bolsonaro diante de informações científicas e frente ao que a Itália vive em se tratando de vírus.
Talvez este texto seja muito mais uma reflexão, para que possamos perceber o tamanho da falta de sensibilidade humana que rotineiramente vínhamos demonstrando para com nossos vizinhos, amigos, filhos(as), com colegas de trabalho, a moça que limpa nossa casa, os professores das crianças e principalmente com o meio ambiente.
No período em que nos encontramos, ou pelo menos deveríamos nos encontrar, na quarentena, a patroa está tendo que lavar o sanitário, varrer o chão, e recolher a bagunça deixada pelo filho (que até então ela permitia sem problemas).
Na quarentena o pai está ajudando a filha nas aulas de inglês. Mas até então, ele mal olhava para a menina e sequer sabia o quão inteligente a filhota é.
A quarentena está mudando a rotina de muitas pessoas dentro de casa, mas fora também.
O meio ambiente está imensamente grato pelo isolamento social. Os níveis de poluição diminuíram. Em Veneza, por exemplo, as águas daqueles famosos córregos que são pontos turísticos, estão mais claras, mais nítidas.
Em Porto Alegre também é possível perceber o ambiente mais “leve”. Não tenho dúvidas de que os níveis de dióxido de carbono e também nitrogênio diminuíram, pois temos menos carros nas ruas e menos aviões nos céus. Mas também, nitidamente percebe-se que as ruas estão menos sujas, porque nós não estamos nas ruas. Olha só que maravilha.
Não estamos deixando papeis de bala cair sem querer, não estamos esquecendo latinhas de bebida por aí ou jogando pela janela do carro, a carteira de cigarro vazia. Olha que legal!
Quando a quarentena acabar, nós não sentiremos saudades do isolamento social, mas o meio ambiente, o universo com certeza sim. Se ele falasse, ele diria: “abriram as portas do hospício outra vez”.
Infelizmente não acredito que sairemos mais conscientes deste período. Gostaria de acreditar que a madame ensinará a família a colaborar com a limpeza da casa para não sobrecarregar a moça da limpeza. Adoraria crer que o pai seguirá presente na vida da filha, valorizando as qualidades da menina e gostaria muito que todos e todas tirassem deste período de quarentena algumas lições de vida, que usassem esta fase para rever conceitos e valores e principalmente pudessem perceber que se o Coronavírus não nos matar, o egoísmo talvez nos mate um dia.
Que nesta quarentena, nossos egoísmos se curem também, que nos tornemos mais humanitários, empáticos e respeitosos com os outros e que quando sairmos da clausura, sejamos capazes de cuidar do meio ambiente da mesma forma como passaremos a cuidar da higiene das nossas mãos.
Andréa Sommer, jornalista, especialista em Gestão de Pessoas e Desenvolvimento de Talentos.