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Novos rumos aos nossos Sindicatos (Adeli Sell)

“Novos rumos” era uma expressão ou um mote usado para se inserir em um debate.  Por isso, o título soa antigo. Hoje, pode soar brega. Mas ouso provocar o bom debate, com um pouco de ironia a nós mesmos, muito fechados em velhos conceitos.

            Meus leitores e seguidores, parceiros de lutas sabem que eu, além de ouvir críticas, eu ouço de fato meus interlocutores. A verdade é que nossos sindicatos envelheceram e com eles nossos combativos dirigentes. São apenas algumas renovações, aqui ou acolá.

            A forma de comunicação segue padrões superados. São colocados recursos demasiados na mídia que chamamos de golpista - e com razão - porquanto deixamos de colocar verbas adequadas na mídia livre e independente, que sobrevive de migalhas e poderia fazer a diferença. Todos sabemos também o quanto as redes sociais podem fazer, para o bem ou para o mal.  

            Vejamos os departamentos de assessoria jurídica, sempre no mesmo diapasão, sem buscar no Direito como um todo atender o trabalhador-cidadão-consumidor.

            Os temas do Direito Civil passam ao largo destes departamentos, como os casos de assédio moral, a violência nos locais de trabalho, os preconceitos, o patrulhamento e todas as formas de infortúnio do trabalho. Poucos se atualizaram para dar conta dos novos e graves problemas nas relações de trabalho ditas “modernas”, nesta sociedade líquida.

            No final dos anos 70 e início dos anos 80 houve o enterro do peleguismo e surgiu o sindicalismo combativo, do qual Lula, Olívio Dutra, Fortunati, Paim, Jairo Carneiro, Paulo Egon, Julieta Balestro, Juçara Dutra, entre tantos foram construtores e referenciais.

            Passadas quatro décadas, os sindicatos mergulharam em águas paradas, turvas e contaminadas; e este estado afeta muitos dirigentes. Ranger de dentes são a marca atual. Sindicatos recolhem um terço daquilo que foi o "bolo" do passado, com isso começam a demitir, gastar o que resta, sem planejar.

            Qualquer estabelecimento tem um “plano de negócios”. Nós que pensamos os sindicatos temos que ter “planejamento estratégico” - fora das velhas caixinhas, dos antigos conceitos, dos velhos meios.

            Não enfrentamos a ditadura nem as prisões para temer o novo, as investidas contra o povo, os pobres, as minorias, os trabalhadores, os desempregados, contra nossa juventude a quem querem ”dar” uma carteira verde e amarela.  Aos idosos, aos trabalhadores de anos e anos de penúria querem “dar” uma aposentadoria de mais penúria. A crise é grave e será agudizada.

            Fomos pacientes demais e está na hora dos lutadores saírem da zona de conforto. Não saberia dizer o que fazer de A Z, mas sei que dar o primeiro passo é essencial, como fizemos há 40 anos.

            No mínimo beber na fonte dos novos movimentos sejam identitários, das comunidades, das culturas, aquilo que vem forte da periferia poderia nos dar novos alentos. Um movimento para revolucionar mentes e estruturas carcomidas.Ações de sindicalismo de cidadania, levantando a dignidade da pessoa humana, da plenitude dos seres, com as demandas laborais, assistenciais, sensibilidade e tudo que conforta os direitos inalienáveis do ser humano.

            Nos 70 anos da Declaração dos Direitos Humanos é preciso avançar, ousar e temer jamais. Nossas Centrais Sindicais devem mais e mais caminhar ombreadas com as entidades comunitárias, de idosos, aposentados, mulheres, indígenas, dos camponeses e de novas formas organizativas presenciais e virtuais. Unir centro e periferia. Unir segmentos e aqueles que não se enquadram em nada; os servidores com os usuários dos serviços; o empregado formal com o terceirizado, cooperativado e o informal. Buscar militância e ativistas nas redes sociais e na chamada mídia de bairro, alternativa e comunitária e no percorrer ruas, praças e comunidades. Ou caminhemos por estes nem tão NOVOS RUMOS ou a barbárie fascista nos aniquilará

            Busquemos de todos os meios justos a solidariedade e unidade que seguem sendo, mesmo antigas, estratégicas e fundamentais para a nossa vida em comunidade e para o nosso avanço como seres humanos.