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Maio de 68 poderia ser agora (Adeli Sell)

Os protestos de Maio de 68 na França foram iniciados pelos estudantes e se alastraram com trabalhadores, ativistas políticos e artistas, chegando a um engajamento social que, em poucos meses, derrubou o governo de Gaulle. A influência deste movimento rompeu barreiras de uma sociedade conservadora, em setores como a educação, trabalho, nos costumes, na sexualidade e outros. As ideias se propagaram mundo afora, porque se fazia necessário buscar mudanças, que beiravam à subversão.

Se pensarmos no Brasil de hoje, pode-se notar semelhanças com a França de 68. Veja a educação, estopim da revolução: aqui é tratada como obrigação burocrática do Estado, atendendo um calendário e outras regras, mas não como uma saída libertadora do nosso país.

A Constituição Federal é interpretada conforme o interesse de quem acusa ou de quem é levado ao banco dos réus. A cultura é inacessível às classes mais populares e o pior, é paga com o dinheiro delas. Impõe-se uma nova legislação trabalhista, mal discutida pela sociedade e com a visão de uma elite liberal, mas, de outro lado, nada se avança na redistribuição da injusta carga tributária. O racismo e a discriminação sexual avançam sorrateiramente.

Ciclicamente a sociedade se fecha, levantando muros de preconceitos e repressões, perseguindo pessoas que se insurgem, como Marielle Franco.

Precisamos nos rebelar, mas de verdade, reeditando Maio de 68.