ARTIGOS


Mingau dos anjos

Adeli Sell

 

         Certamente que você conhece um “doce dos deuses”.
Eu desconhecia “mingau dos anjos” até ler o livro homônimo de Regina Freitas Silveira.

         A autora teve a gentileza de escrever na dedicatória que “um coração puro é um coração rico” e, de fato, com o coração puro e a mente ávida por uma nova leitura, enriquece meu coração, pela singeleza e graça desta novela.

         A personagem nos leva numa madrugada insone para a sua cozinha com o indicativo que um anjo chegaria às 3:33.

 O número 3 ressoa com a energia da criatividade e da expressão, constrói nossa realidade através do poder do pensamento, da palavra e da ação.

         O número 3 é considerado como a união entre o corpo, o espírito e a mente, representando, portanto, pessoas que procuram manter o equilíbrio.

         Está na Torá, está na pirâmide, no triângulo (3 lados iguais, perfeito) etc.

         O que mais seria?

         Foi na pandemia que a autora se debruça sobre o pensar. E o primeiro capítulo está a “Insônia” e esta vem depois de uma trovoada forte de chuva. É a personagem Aniger (Regina, lido de trás para frente) agora. Em sua família são três também; Aniger, a filha Anabibi (Bibiana de trás para frente) e Aurélio (aquele que é feito de ouro).

         Ela não sabia ao certo, mas tinha lido, seja lá o que for, às 3 viria à Terra para atender pedidos humanos.

         Não está claro quais seriam os seus, mas pouco importa, porque o jogo é a espera, chuva, o pensar, a reflexão sobre sua vida, a vida da família em especial da filha.

         A narrativa é quase uma biografia de Aniger e os seus familiares.

         Esta escolha parece não ser nada fortuita, pois a autora busca mostrar que o quadro dos três é uma harmonia como o triangulo ou o encanto da pirâmide.

         Como que doce, bolo, quitute esperar o anjo? Ela opta pela simplicidade e vai para o fogão, em silêncio, só ele e o pensar, fazer um simples mingau, depois dá uma caprichada com uma goiabada derretida.

         O relógio e o baldar dos sinos estão a lhe medir o Tempo, e este vai, vai e vai. Não vem o anjo, mas na hora aprazada ela é tomada de uma plenitude perfeita.

         É o que lhe basta, fica o quitute para o café da manhã, em silêncio na parada da chuva retorno ao leito.

         Seu texto é mesclado com “arte” ilustrações de mais de uma dezena de pessoas de suas relações, inclusive da filha, que é estudante de artes visuais.

         Regina Freitas Silveira é uma mulher multifacetada, já a conhecida de anos atrás, por causa de sua loja de roupas. E ela está num caleidoscópio de atividades de coração e mente que vão das várias terapias que ela domina e mexe à escrita.

         Vou continuar lendo Regina, dando apenas um pitaco, não só para ela, mas para autores que se iniciam nas lides da escrita: escrevam e leiam; leiam mais e escrevam mais. Não se importam se deletam metade no dia seguinte, tem razões para tal.

         Continue(m)!

 

Adeli Sell é professor, escritor, bacharel em Direito.