Adeli Sell
Pássaros amam árvores. Do alto delas cantam. E nos encantam. Os macacos adoram fazer estripulias nelas. É seu habitat, não em gaiolas. Algumas árvores são exibidas e se sobressaem a outras. Outras se contentam em ser nanicas. Tem aquela que é tão apegada a seus frutos que faz com que se grudem no seu tronco. Adoro jabuticaba. Tem o cacaueiro do doce chocolate; o cafezal do amargo café. Juntos é uma grande combinação. Tem a seringueira que dá leite para não beber.
Tem pessoas que gostam de árvores. Amam árvores. Plantam árvores. Preservam.
Tem pessoas que odeiam o verde, têm uma força bruta em sua alma, que os fazem comprar motosserra, tratores e venenos para botar tudo por terra e engordar sua conta bancária, ter sua camionete potente e seu jatinho.
Não é sina não. Formam-se florestas para múltiplos propósitos.
Não é sina não. Sujeitos são formados de maldade, pois que tudo querem para si. Querem plantar na nascente e adentrar o asfalto com soja e mais soja.
Voltando aos verdes campos e para as plantas, arbustos e árvores: o que seria a videira? Alguns diriam que é um arbusto. Mas creio que não se chateia em ser uma pequena árvore.
Numa encosta de morro da Serra há videiras e formam um parreiral. Ah, vinho, espumante, suco e graspa.
Mais adiante resistem araucárias e agora seus pinhões na chapa com um vinho fazem meu deleite.
Um cusco se junta a meus pés para o necessário calor da existência. Não queimo qualquer madeira. Planto, corto e replanto.
A TV mostra o fogo no Pantanal e os bichos queimados. A seca é dura na Amazônia.
Mesmo com meu vinho me fazendo bem o que me é jogado na cara me deixa acabrunhado.
A enchente de maio chocou o mundo. Foram pelas águas turvas e violentas o negacionismo de muitos. O amargo regresso de junho é visível. Deixará marcas indeléveis em meus conterrâneos; males da cabeça e do espírito vão aflorar, aumentando a legião dos depressivos.
Penso nos irmãos que perderam tudo, até suas mais recônditas memórias.
Nada será esquecido.
Tudo tem que ser repensado.
O debate, a leitura e a reflexões podem nos mudar. Será? Às vezes fico descrente.
Penso que parte da Humanidade quer o fim de todos, desde que estes desumanos possam viver no fausto.
Tem gente que estudou "nos melhores colégios” e desaprendeu. Jogou fora sua inteligência para compor teorias esdrúxulas como o negacionismo climático.
Afinal, retorno a meu vinho, penso na inteligência do meu cusco, pego meu Simões Lopes Neto e vou dormir mais tarde, esperando acordar amanhã mais otimista com os meus semelhantes. Hoje, estou mais com as árvores e os pássaros.
Adeli Sell é professor, escritor, bacharel em Direito e vereador.