Adeli Sell
Em 2014, aos 111 anos do Museu, Vanessa Becker Souza lança livro de resgate histórico do Museu Júlio de Cestinhos.
2024, aos 121 anos, seu prédio é ameaçado pela construção de um espigão ao lado, assim, nada melhor do que resgatar estas Memórias trazidas pelo trabalho de Vanessa.
A autora traça uma linha de tempo que vai de sua fundação, com destaque aos momentos históricos vividos, os governos, alguns que se preocuparam mais com nosso patrimônio histórico-cultural, outros que quase desdenharam a História.
Destaco o papel inicial de Pereira Passos que busca nas municipalidades ajuda e materiais para iniciar o importante acervo que temos nos dias de hoje, apesar de perdas relatadas, seja pela ação do tempo, intempéries e desdém de algumas gestões.
Poucos devem saber o papel que teve a Escola de Engenharia, como o próprio Pereira Passos e depois o engenheiro Francisco Rodolfo Simch que por longos e longos anos dirigiu o museu, sendo um incansável defensor. Há uma avenida no Sarandi que o homenageia, mas a placa não faz referência a esta magnífica função exercida,
Na pesquisa da autora chama a atenção às dificuldades relatadas e as lutas para ter um anexo ou outro prédio como existe hoje em dia. Lastimável ver que quase ano a ano se levantava a questão com o silêncio obsequioso das autoridades.
Em 1936, saliento um dado: a doação dos importantes arquivos do historiador Alfredo Varela.
É importante lembrar a passagem de Alcides Maya pelo Museu, primeiro rio-grandense na Academia Brasileira do Letras. Foi substituído pelo jornalista e educador Emilio Kemp.
O professor Dante Laytano foi outro intelectual a dirigir o Museu e em 1940 “festejou” o falso bicentenário da capital, na onda do professor Walter Spalding.
Hoje ninguém lembra o poeta Fontoura Xavier – a não ser que é nome de um município pobre do Estado. Mas em 1956 houve evento comemorativo ao seu centenário.
Poucos sabem, porém houve na década de 70 muitas sessões de cinema no Museu.
Pelos relatos, as visitações de escolas eram bem mais frequentes do que hoje em dia.
Em 1975, finalmente, o governo faz desapropriação de prédio ao lado, configurando anos e anos de luta para a ampliação do Museu. Pois, pelos exíguos espaços, muitas peças foram a outros museus específicos, ficando o material histórico do Estado, sendo que hoje há mais de 10 mil peças específicas.
É um livro a ser lido, com o devido vagar, para poder apanhar passo a passo de sua construção histórica e social.
Logo, a defesa do prédio, do seu acervo, é fundamental nos dias que correm.
Adeli Sell é professor, escritor, bacharel em Direito, vereador do PT-poa.