ARTIGOS


À flor da pele

Adeli Sell

 

                   Jeanne Nunes é estreante no conto. Veio em 2023, com seu "À flor da pele", com 103 páginas, pela Editora Coralina, de Cachoeira do Sul.  Jeanne é professora estadual, formada em Letras.

         Conheci Jeanne em evento em Taquara onde reside, fazendo parte do Coletivo de Escritores e Artistas do Paranhana.

         Na orelha do livro, o escritor Doralino Sauza da Rosa, editor da revista eletrônica Paranhana Literária, nos diz que “a autora ultrapassa os dilemas do leitor e nos leva a extremos de paixões, sensualidades, desatinos, alegrias e sofrimentos". Bingo! Como podem ver, Doralino percebe que as coisas parecem estar à flor da pele, de fato estão, mas vem de um mar revolto da alma da autora, que não tem medos nem pejos de falar de suas personagens, colocar todas em ação.

         Na mesma linha vai o prefaciador, Delalves Costa, escritor e poeta, ao dizer que "Em “À flor da pele", o ser humano é despido de suas múltiplas facetas e faces, é revelado os seus versos e reversos por meio de temas emblemáticos e nem sempre fáceis de falar..."

         Chamou-me a atenção de como a autora usa "os olhos" das personagens para expressar o seu mundo interior, ela força os olhares. E se a gente olhar bem nota logo que não há tema proibido como um homem mais jovem namorar uma mulher mais velha, como se conhecer além dos limites do físico, com uma experiência tântrica etc. E consegue falar de nossas banalidades, como uma corrida à beira mar, olhar bundas, voltar para casa e o olhar da sua mulher na cama e um sorriso valendo mais que tudo do que vira e do que uma transa.

         Não lhe fogem os amores homoafetivos, nem ela foge deles, trata-os com o timbre que merece toda a forma de amor. Tem, é claro, muitas dúvidas, ciúmes, impaciência; porém de forma recorrente vem a bonança da alegria, da vida e da vida a se viver. Não foge de seu problema da gagueira, dando um tratamento a este um toque digno de louvor, incentivando, dando coragem.

         Pode haver enredos que venham de lugares comuns da vida, mas nada é supérfluo, comum, pois sua escrita tem a densidade de uma escritora já formada, calibrada, na medida certa, sem exceções, sem pieguices ou demagogias. Pelo contrário, nada fica sobrando.

         "Á Flor da Pele" é um bom título, concordo. Mas o conteúdo, o que está além da flor da pele neste livro é de uma riqueza que começo a ver na nova literatura que se faz ao Sul do Brasil.

 

Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito