2021 - 32 anos anos depois de morte - vem "Ninguém pode com Nara Leão", livro de Tom Cardoso, pela Planeta.
Lendo o livro, o autor não poderia ter sido mais feliz com o título nas palavras tiradas de uma carta de Glauber Rocha.
Elis que arrumou seguidas broncas com Nara reconhece sua impertinência e abre seu coração a Nara, pouco antes de morrer.
Nem o cafajeste do namorador Bôscoli pôde com ela, pois depois que sucumbiu às chantagens de Maysa, foi esnobado por Nara Leão.
Muitos implicavam com ela, preconceitos com a garota de classe média de Copacabana; implicância com a "falta de força da voz ", algo enterrado com o tempo. Nara mostrou que cantava como ela bem queria.
Ela sabia das coisas, apesar da sua timidez e de seus fantasmas.
Ela captou o Brasil real para além do seu apartamento e do grupo que começa a circular em torno dele e dela.
Descobre e projeta artistas de todas as matizes.
Ela tem coragem de dizer muitos "naos" aos maiorais das gravadores e da TV; aos milicos de plantão e seus censores. Teve a suprema coragem de dizer que tinha que acabar com o Exército.
Enquanto alguns afrouxavam, ela ia esticando a corda na política, na vida, nos costumes. Nunca fez moda como sua irmã Danuza. Mas quem saia de jeans e conga era ela, desfilava de shortinho e jardineira.
Encurtou a barra da saia; pegou o violão , sentou num banquinho e tocava em boteco e nos centros acadêmicos.
Ela subiu o morro e baixou o morro para o asfalto; adentrou o sertão e trouxe suas vozes para os palcos.
Paulo Francis foi preciso em homenagem a ela:
"Foi símbolo da reação à ditadura de 1964 sem nunca pretender ser coisa alguma.'
O livro é mais do que s história de Nara Leão; é também a História de 3 décadas do país.
Adeli Sell, professor e escritor